A sessão extraordinária da quinta-feira passada, quando o reajuste dos servidores municipais foi aprovado da forma como o prefeito Sebastião Almeida (PT) queria, com apenas 6% de aumento, deixou sequelas. Alguns vereadores do próprio PT e outros da base aliada, que sempre disseram “amém” ao Executivo, não só votaram contra os interesses da administração, como fizeram discursos inflamados, postaram suas insatisfações nas redes sociais e, no dia seguinte, foram retaliados, com a demissão de funcionários indicados por eles na Prefeitura de Guarulhos.
A insatisfação dos retaliados foi tanta que, nesta terça-feira, uma manobra dos governistas evitou que a Câmara Municipal realizasse a sessão ordinária por falta de quórum. Na base do “olhômetro”, Professor Jesus (PDT), o presidente da Casa, encerrou os trabalhos em menos de um minuto sem se dar ao trabalho de contar quantos vereadores estavam presentes em plenário.
A decisão de Jesus veio dos "céus". Afinal, vereadores da oposição pretendiam aprovar requerimentos para a abertura de duas Comissões Especiais de Inquérito (CEIs) contra a administração, algo que nunca ocorreu até hoje nas duas gestões de Almeida, já que ele sempre teve controle total sobre o Legislativo.
Uma iria investigar a contratação dos shows de 1º de maio, depois que a cantora Paula Fernandes declarou publicamente que veio a Guarulhos sem cobrar cachê, quando a Prefeitura havia incluído nos gastos para a realização do evento o pagamento para a artista. A segunda iria abordar o contrato de R$ 9,5 milhões realizado pela Secretaria Municipal de Educação com uma empresa que promete espantar pombos das escolas, conforme o GuarulhosWeb publicou em primeira mão há duas semanas.
Almeida temia que os vereadores da oposição conseguissem o número mínimo de assinaturas necessárias para a abertura das CEIs, já que percebeu não poder contar com vários parlamentares da base de sustentação, que – na sexta-feira – viram no Diário Oficial do Município a exoneração de 35 apadrinhados.
Petistas defendiam reajuste maior para servidores
Durante a sessão de quinta-feira, os vereadores da base de sustentação de Almeida, Maurício Brinquinho, do próprio PT, e Heleno Metalúrgico (PDT), ambos sindicalistas, foram – junto a parlamentares de Oposição – os mais ferrenhos críticos do prefeito, que enviou para a Câmara o projeto de lei com apenas 6% de reajuste salarial, sem considerar as perdas salariais com a inflação dos últimos 12 meses, que chegam a 8,36%. Tanto que foram autores de uma das emendas reprovadas pelos colegas, que pedia o reajuste integral dos 8,36% imediatamente.
Subiram à Tribuna para defender os 8,36% para os servidores também o líder do PT Marcelo Seminaldo e a colega de partido Marisa de Sá. Ambos deixaram claro que era inconcebível o “Partido dos Trabalhadores” votar um reajuste que não levava em consideração a inflação acumulada no período passado e defenderam publicamente os 8,36%, contra os interesses de Almeida.
No dia seguinte, Marisa de Sá – após ser retaliada com as demissões – publicou em sua página no Facebook: “Como professora militante do PT, tenho lado e compromisso com os trabalhadores (as). O PT nasceu para ser diferente, para lutar por uma sociedade mais justa e igualitária. Criar o PT foi um ato de coragem, frente a tradição política autoritária e elitista do Brasil”. Em outro trecho, deixou claro seu descontentamento: “Como explicar para os trabalhadores de nossa base, que não é possível um aumento salarial adequado, se temos esse tipo de procedimento?”
Marcelo Seminaldo, em entrevista ao GuarulhosWeb, evitou colocar mais lenha na fogueira. Apenas se limitou a lembrar que trabalhou muito pela reeleição de Almeida, mas que há a possibilidade de um revide. "Na verdade eu ajudei muito na eleição deste governo e toda ação gera uma reação na mesma intensidade", encerrou.
Líder garante que base não foi abalada
Já o vereador e líder do Governo na Câmara, Samuel Vasconcelos (PT), admitiu que houve algum desgaste, mas que – independente da contrariedade de pelo menos sete integrantes – a base está sólida. "Continua consolidada e o que aconteceu é que pontualmente nós tivemos alguns vereadores que desgastaram a relação com o governo, mas isso não quer dizer que não sejam mais da base. Muito pelo contrário. Não é porque ele perde um ou outro servidor que ele sai da base", explicou.
Sobre a possibilidade de algum destes aventar a possibilidade de defender os interesses da oposição, Vasconcelos defendeu a tese de que são livres para fazerem suas escolhas, além de ressaltar que Almeida não tomou nenhuma ação drástica e muito menos de retaliação. "Primeiro cada um deve buscar o que é melhor pra si e isso o governo, que tem suas prioridades, respeita. Porém, a base também tem de ser respeitada. O governo não tomou nenhuma atitude drástica ao ponto de deixar esses vereadores sem espaço no governo", justificou.
Entretanto, Samuel revelou que os parlamentares perderam de alguma forma espaço na Administração, por meio de cargos comissionados, mas disse que a atitude adotado pelo chefe do Executivo foi de essencial importância para reduzir os custos da máquina, que passa por uma forte crise financeira. "Alguns não têm mais o mesmo espaço de antes, o que acho normal. E digo que não foi retaliação, até porque o governo precisa enxugar a folha. E o governo está procurando alguns critérios para manter os comissionados. Somente o prefeito Almeida é que sabe quais foram os critérios adotados. Então, não posso dizer que o vereador vai pra oposição ou não".
Segundo o GuarulhosWeb apurou, perderam espaço junto ao Poder Executivo os vereadores Marcelo Seminaldo (PT), Maurício Brinquinho (PT), Marisa de Sá (PT), Rômulo Ornelas (PT), Alexandre Dentista (PSDC), Toninho Magalhães (PTC) e Heleno Metalúrgico (PDT).
(Com reportagem de Antonio Boaventura).