O grupo Votorantim, da família Ermírio de Moraes, que atua em diversos setores da economia – de cimento e siderurgia à produção de suco de laranja – está revendo seu portfólio de negócios. O conglomerado, que fatura R$ 30,5 bilhões (dados anualizados até setembro), deverá concentrar seus investimentos em áreas consideradas prioritárias, apurou o jornal O Estado de S. Paulo.
“Esse movimento no grupo já ocorre há um bom tempo e foi intensificado, sobretudo, durante a crise financeira de 2008, em função das perdas com derivativos (que afetaram, sobretudo, os negócios de celulose e o banco). O objetivo do grupo é permanecer em áreas nos quais é líder e em setores relevantes. Ele deve sair, aos poucos, de negócios que não tenham sustentação no longo prazo (Citrosuco, Fibria e Banco Votorantim)”, afirmou uma fonte com conhecimento no assunto.
Apesar de o setor de cimento estar em uma má fase, com queda da demanda no Brasil, essa divisão continua como uma das principais apostas do grupo. A companhia é a maior do País nesse mercado e o cimento responde hoje por nada menos que 43% da Votorantim Industrial. Há três anos, a família tentou abrir o capital dessa divisão, mas voltou atrás por conta das condições adversas do mercado.
Na outra ponta, a Citrosuco – produtora de suco de laranja na qual o conglomerado possui 50% – é um dos negócios que podem ser revistos. Fontes próximas à companhia afirmam que o horizonte de consumo global de suco de laranja é de declínio e não faz sentido fazer fortes apostas nesse setor.
Em celulose, o grupo chegou a ser sondado para vender sua participação, mas a pressa de vender a Fibria diminuiu por conta da alta do dólar, o que elevou as exportações da commodity, afirmou uma fonte ao Estado. No ano passado, segundo fontes, a fatia de 29,42% da Votorantim na Fibria (fusão entre Aracruz e VCP) foi alvo de cobiça de seus principais concorrentes – Eldorado (da J&F) e Suzano. O BNDES, que é importante sócio da Fibria, aproveitou a valorização das ações da companhia para reduzir sua fatia no grupo ao longo de 2015. Procurada, a Votorantim diz que não tem interesse de se vender a Fibria e que essas “notícias são especulativas”.
Encolhimento
Entre 2008 e 2011, a Votorantim teve de vender alguns ativos para fazer caixa. Entre eles, sua fatia na Usiminas, vendida para o grupo Techint; a participação na CPFL, arrematada pela Camargo Corrêa; e a CanaVialis, que parou mãos da Monsanto.
“Grandes grupos brasileiros, como Votorantim, Camargo Corrêa e Odebrecht, diversificaram seus negócios nos últimos anos. Muitos aproveitaram o movimento de privatização na década de 1990 para entrar em infraestrutura e energia. Alguns encolheram com as crises no início dos anos 2000 e em 2008 e, agora com a turbulência atual, seja por conta da Operação Lava Jato ou problemas de financeiros, têm de vender ativos para fazer caixa”, diz Sérgio Lazzarini, do Insper.
No caso do Votorantim, no entanto, fontes ressaltam que, apesar da crise no País, diferentemente de outros, o grupo não enfrenta pressão para fazer caixa e tem recursos para atravessar esse momento. “Não há dívida de curto prazo e os bonds (títulos da dívida) são de 30 anos”, afirmou uma fonte de mercado.
Fundado em 1918, como uma fábrica de tecidos, o Votorantim – que se diversificou nas últimas décadas e intensificou seu processo de internacionalização nos anos 2000 – diz que “frequentemente avalia seus investimentos atuais e futuros” e que todos seus negócios são “core” e não estão à venda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.