Em um editorial publicado nesta sexta-feira, 2, o jornal americano The Washington Post alertou que, após a troca de comando no Ministério da Defesa, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro pode agora estar "mirando a democracia". Segundo o texto, "Estados Unidos e América Latina devem estar atentos para garantir a Bolsonaro que qualquer interrupção da democracia seria intolerável".
Em tom altamente crítico, o texto afirma que, "graças à impressionante incompetência do presidente Jair Bolsonaro e seu governo", não há sinal à vista para o fim da crise sanitária causada pelo coronavírus no País. O jornal destaca que o Brasil está vivendo um dos piores picos de infecções por covid-19 que o mundo já viu, lembrando que apenas 2% da população brasileira foi completamente vacinada e medidas de confinamento necessárias para diminuir as novas infecções "são virtualmente inexistentes".
"Em vez de lutar contra o coronavírus, Bolsonaro parece estar preparando as bases para outro desastre: um golpe político contra os legisladores e eleitores que poderiam removê-lo do cargo", escreve.
O jornal analisa que o presidente Bolsonaro demitiu nesta semana o Ministro da Defesa – com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica deixando suas posições na sequência -, no momento em que surgem novas ameaças de impeachment no Congresso, e uma eventual candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganha força para as próximas eleições.
As últimas medidas do presidente, destaca o Post, foram suficientes para fazerem com que seis possíveis presidenciáveis divulgassem uma carta conjunta alertando que a "democracia do Brasil está ameaçada". O jornal cita ainda o artigo assinado por Brian Winter, editor-chefe do Americas Quarterly, no qual ele afirma que o plano do presidente Bolsonaro é "ter tantos homens armados do seu lado quanto possível no caso de um impeachment ou um resultado adverso na eleição de 2022".
Apesar das instituições democráticas no Brasil serem "relativamente fortes após mais de três décadas de consolidação", escreve o Post, há "razões para se preocupar". "O sr. Bolsonaro expressou abertamente sua admiração pela ditadura militar que governou o país nas décadas de 60 e 70. Admirador de Donald Trump, ele adotou a tática do ex-presidente dos EUA de alertar sobre fraude nas próximas eleições e exigir que os sistemas de votação eletrônica sejam substituídos por cédulas de papel", afirma o editorial.
"O presidente brasileiro já contribuiu muito para o agravamento da pandemia de covid-19 em seu próprio País e, por meio da disseminação da variante brasileira, pelo mundo. Ele não deve ter sucesso em destruir uma das maiores democracias do mundo também."