Werner Herzog não para. Com uma obra que se alterna entre documentários e ficções, o cineasta alemão tem lançado um filme por ano, ou mais. Em 2016, são dois: Salt and Fire, rodado na Bolívia, com Michael Shannon e Gael García Bernal, e Into the Inferno, documentário que entra no ar na Netflix na sexta-feira, 28. No filme, Herzog junta-se ao vulcanologista inglês Clive Oppenheimer para captar em imagens poderosas a energia dos vulcões e para investigar a mitologia em torno deles, na Indonésia, Islândia, Etiópia e Coreia do Norte, em filmagens raras do país mais secreto do mundo. Em uma entrevista exclusiva ao Estado, Herzog declara que, apesar de ser prolífico, não é workaholic e que gostaria de ter rodado na “cratera vulcânica” mais poderosa do mundo: o estádio do Maracanã.
Muitos dos seus filmes são sobre o homem enfrentando a natureza. Qual é sua relação com a natureza?
Vou resumir: boa (risos). Não, faço filmes, e este me permitiu capturar imagens que você nunca viu em sua vida. E vai demorar algum tempo para conseguir coisa boa assim.
Existe um diálogo no filme, sobre tomar cuidado ao estar perto de tamanha força da natureza, em que você fala de sanidade.
Sim, porque sou chamado de insano com muita frequência e facilidade! Mas não sou louco. Claro que não.
Então, isso o incomoda?
Na mídia, há essa percepção. Mas minha prova de que sou mentalmente são e parcialmente inteligente e respeitoso com a vida dos outros é que em 70 filmes, em meio século de carreira, nenhum ator ou figurante jamais se machucou. Nenhum. Então, essa é minha prova material. Mas na mídia vai continuar essa percepção pública de que sou louco. E não vou conseguir mudar isso, infelizmente.
Há quem ache que os documentários deveriam ser “neutros”. E você se coloca bastante nos seus filmes. Qual é sua filosofia ao fazer um documentário?
Eu ouço às vezes de cineastas pouco inteligentes: você não deveria interferir, deveria ser uma mosca na parede. Então, por favor, instale sua câmera num banco e, em 15 anos, talvez haja um roubo. Mas não haverá nenhuma ideia, nenhum ângulo. Sempre digo que não devemos ser a mosca na parede, mas a vespa que pica. Somos cineastas. Somos criadores. As pessoas acham que um documentário deveria conter apenas fatos. Esses são bancários. E filmes neutros não são possíveis, de qualquer maneira. Cada ângulo que você escolhe é uma declaração. Cada corte na edição é uma manipulação. Então, não adoto uma filosofia que é estúpida demais para considerar.
Como escolheram os locais?
Perdemos o melhor de todos, a melhor cratera vulcânica, o Estádio do Maracanã! Esse nós perdemos. É um super vulcão. Me deem Garrincha e Pelé! E aí eu faço um filme vulcânico monumental no Maracanã.
Ninguém sabe o que acontece na Coreia do Norte. Como foi a experiência de estar lá?
Tudo é diferente na Coreia do Norte, porque é tão isolado. É uma experiência única. Agora o país está se abrindo um pouquinho. Mas claro que não fomos como turistas, tivemos uma permissão oficial. Não se pode filmar clandestinamente. É quase impossível.
Você está lançando dois filmes este ano. É workaholic?
Não sou workaholic. Faço filmes de maneira tranquila. Escrevo, leio, atuo, cozinho – pelo menos de vez em quando. Não se preocupe comigo. Sei como trabalhar de maneira calma e constante.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.