Estadão

Zambelli tenta se aliar a Boulos para combater bloqueio de contas de parlamentares

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) pediu o apoio de Guilherme Boulos (PSOL-SP) nesta quinta-feira, 31, em prol de uma reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para discutir o bloqueio de contas de ressarcimento de parlamentares por ordem judicial.

A motivação dela foi o caso do também deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que foi alvo de uma decisão judicial de Nova Friburgo, interior do Rio de Janeiro, que determinou o bloqueio de R$ 1 milhão na sua conta de ressarcimento de despesas parlamentares. Ele divulgou o caso nas redes sociais na última terça, 29.

"Contatei Guilherme Boulos, líder do PSOL, propondo reunião com Arthur Lira, presidente da Casa. Apesar das visões políticas 100% opostas, busco resolver burocracias que travam o trabalho de todos", disse Zambelli nesta quinta.

Os dois estavam no mesmo evento e, de acordo com fontes que estavam local, a deputada foi até Boulos, que a ouviu, mas não se manifestou. O gesto ocorreu no mesmo dia em que a pesquisa Datafolha mostrou o deputado liderando as intenções de voto para a Prefeitura de São Paulo em 2024.

Procurado pelo <b>Estadão</b>, Boulos não quis comentar.

<b>Simetria dos casos</b>

Na nota divulgada pela assessoria de imprensa, Zambelli se solidariza com Braga e diz que o bloqueio de contas de ressarcimento é um problema enfrentado há tempos por "parlamentares de direita".

É nessas contas que deputados recebem o ressarcimento de despesas com passagens aéreas, alimentação e transporte. Essas despesas precisam ser comprovadas e estar dentro dos limites da cota parlamentar – uma espécie de "teto" para esses gastos.

Ela também comparou o caso do parlamentar do PSOL com os seus próprios processos judiciais. "Enfrentei bloqueio por multas devido a postagens em minhas redes sobre Lula e ditadores como Ortega e Maduro. O TSE entendeu que tratava-se de fakenews."

Neste ano, a deputada chegou a abrir uma vaquinha virtual para pagar multas e condenações processuais. Como mostrou o Estadão na época, em dez dias, Zambelli arrecadou R$ 168 mil, o que, segundo ela, superava a meta inicial de R$ 100 mil.

A tentativa de aproximação com Boulos foi repudiada por Braga na manhã desta sexta, 1º. Ele acusou Zambelli de usar o caso dele "como artilharia para suas questões" e recusou a solidariedade da deputada. "Não serei usado de escada. Falsa simetria comigo não rola. Não tentei dar golpe de Estado de orientação fascista e nem sustentei projeto de morte."

<b>Abandonada pelo núcleo bolsonarista</b>

Desde o segundo turno das eleições de 2022, Zambelli vem sendo repelida pelo núcleo bolsonarista. Na véspera do pleito, ela perseguiu o jornalista Luan Araújo pelas ruas do bairro Jardins, na Zona Sul de São Paulo, empunhando uma arma de fogo.

Jair Bolsonaro (PL) atribui a esse episódio a culpa pela sua derrota nas urnas. No último dia 18, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para colocá-la no banco dos réus por causa desse episódio.

Zambelli também responde a duas ações de investigação judicial eleitoral – mesmo tipo de processo que deixou Bolsonaro inelegível – que desceram do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a Justiça Eleitoral de São Paulo. A defesa da deputada tentou juntar os casos dela aos do ex-presidente, mas o ministro-corregedor da Corte, Benedito Gonçalves, não acolheu o pedido.

Outro episódio envolvendo Zambelli é o caso do hacker Walter Delgatti Neto. Ele diz que a deputada financiou e é a mandante de um ataque que ele fez ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ele foi preso no mesmo dia em que a Polícia Federal fez operações de busca em endereços da parlamentar.

Bolsonarista fiel, ao mencionar o contato com Boulos, Zambelli não usou o nome do ex-presidente. Em vez disso, reiterou que é opositora política da esquerda e que foi escolhida como "um dos três parlamentares mais opositores ao governo Lula".

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