Variedades

Zaragoza retoma sua série sobre Olimpíadas

No verão de 1992, a cidade de Barcelona recebeu 9.356 atletas de 169 países e mais um pintor, o catalão José Zaragoza, hoje mais brasileiro que espanhol. Lá ele expôs pela primeira vez as pinturas de sua série Zaragoza Olympics, representando alguns dos 32 esportes dos jogos olímpicos de Barcelona. Agora, comemorando a realização da Olimpíada no Brasil, o pintor e publicitário retoma a série, exibindo novos trabalhos na galeria Canvas, a partir de terça, 2.

São obras em pequeno formato que contrastam com as mais antigas, de dimensões maiores, englobando alguns dos esportes olímpicos – elas também estão na mostra. Basicamente sobre futebol, as novas pinturas têm igualmente um antecedente histórico, a série Futebol Arte, iniciada em 1990 com uma exposição em São Paulo que viajou pelo Japão no ano seguinte.

Zaragoza, aos 86 anos, lembra dessa exposição que começou em Shizuoka, Japão. Os japoneses, que nunca foram craques no futebol – como o pintor, aliás – queriam estimular o esporte no país. Contrataram, então, Zaragoza e o jogador carioca Zico, considerado o maior futebolista que passou pelo Flamengo. O primeiro deveria criar cartazes, pôsteres e desenhos. Já o segundo ficou com a tarefa mais ingrata: ensinar a arte de driblar e bater pênaltis aos japoneses, no que saiu vitorioso, ao assumir, em 2002, o encargo de escolher os jogadores da seleção japonesa.

Zico levou os japoneses a conquistar a Copa da Ásia em 2004 e tomou gosto pela função de treinador. Zaragoza também se fixou na pintura do esporte. Corintiano, ele compensou sua falta de jeito no campo pela agilidade com que lida com os pincéis. Em outros esportes, tampouco foi bem-sucedido. Ele namorou a campeã de tênis Maria Esther Bueno, que conheceu nos anos 1950, ao frequentar o Clube de Regatas Tietê, mas nem ela conseguiu fazer de Zaragoza um tenista – e ela venceu 19 torneios do Grand Slam, entrando para o Livro dos Recordes por vencer uma partida em 19 minutos.

Em contrapartida, Zaragoza chegou a ganhar uma medalha, aos 18 anos, numa maratona aquática promovida em Barcelona, onde morava. “Todos os dias à tarde, depois da aula, eu treinava na praia em frente à casa onde morava”, conta. No tempo que sobrava, rabiscava figuras nos livros, o que lhe valeu alguns puxões de orelha da mãe. Ela passava roupa para uma professora, que, encantada com o desenho do menino, conseguiu uma vaga na Escuela de Artes y Oficios de Barcelona, também conhecida como Escola de Lonja, por onde passaram pintores como Picasso e escultores como Damià Campeny.

O sistema rigoroso de Lonja levou Zaragoza a aprimorar o traço, o que seria valioso em sua experiência como publicitário ao desembarcar no Brasil, em 1952. Naquela época, basicamente todo o material de publicidade usava ilustração. Foi assim que conheceu outro catalão, Francesc Petit (1934-2013), com quem trabalhou na J.W. Thompson, fundando depois o estúdio Metro 3 e, em 1968, a agência de propaganda DPZ (o D é de Roberto Duailibi, terceiro sócio).

O resto da história todos conhecem, inclusive das inúmeras exposições de pintura que Zaragoza fez no Brasil e países como Alemanha, Bélgica, Chile, EUA, Finlândia e Itália.

Entre todas as séries, a Olympics ficou marcada pela simulação de movimento, a rapidez do traço e as cores fortes. “A vida é movimento, não se pode fugir disso”, diz. Em certos esportes, ela não é só movimento como um risco. Na tela Salto, que congela uma atleta de salto com vara depois que a saltadora ultrapassou o sarrafo. O cromatismo é pesado, contrastando com a paleta pop das outras modalidades esportivas. “Para mim, esse momento do salto é justamente aquele em que o atleta nada mais vê à sua volta, a treva mais completa”, justifica. Em tempo: a deformação da figura, no caso, desafia a lógica da representação, como em Francis Bacon, afinidade eletiva de Zaragoza.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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