Variedades

Zélia, Caetano, Fafá, Elba e Yamandu se destacam em cerimônia no Rio

Chamada de “oportunista” pelo compositor Roque Ferreira por ser incluída pelo Prêmio da Música Brasileira na categoria samba, a cantora Zélia Duncan saiu da cerimônia de premiação, no Teatro Municipal, na quarta-feira, 22, como grande vencedora: levou três troféus, melhor canção, Antes do Mundo Acabar (sua com Zeca Baleiro), CD (homônimo) e cantora. O disco, com sambas de Paulinho da Viola, Moacyr Luz, Xande de Pilares e seus, venceu o do autor baiano (Terreiros), que, ao saber que concorria com uma “não sambista”, pedira ao criador e diretor-geral do prêmio, José Maurício Machline, que seu disco fosse retirado da categoria – não foi atendido.

“Para mim, essa história se encerra aqui. Eu sou roqueira. Essa liberdade conquistei com muitos anos de trabalho. Gravei sambas como um agradecimento ao gênero. Vida longa a quem tem amor no coração!”, disse a cantora na saída da cerimônia, à qual foi com um provocador broche dos Rolling Stones (o da língua para fora) preso à roupa.

Nessa quinta, 23, por telefone, o compositor de sucessos de Zeca Pagodinho, como Água da Minha Sede (com Dudu Nobre), e Samba pras Moças (com Grazielle Ferreira) classificou os prêmios dados a Zélia “uma violência ao samba”. “Ela é roqueira, e ganhou porque o projeto é do Machline, que é um canalha bem-vestido, com roteiro dela. Samba tem que haver compromisso.” Para Machline, conceitos cristalizados, como os de Roque, estão “fora de moda”.

A noite foi de tributo a Gonzaguinha (1945-1991), e teve cores políticas, impressas por músicas de crítica social, como Comportamento Geral – que teve interpretação potente de Criolo -, e É, com Seu Jorge. Numa deixa da apresentadora, a atriz Dira Paes, o Municipal chegou a gritar, em uníssono, “Fora Temer!”, referência ao presidente em exercício, Michel Temer.

A cerimônia, que contou a trajetória de vida e artística de Gonzaguinha, foi dramatizada, e a performance do ator Júlio Andrade como o compositor (ele já o havia feito na cinebiografia Gonzaga – De Pai para Filho, de Breno Silveira) foi comovente. A plateia aplaudiu de pé o ator, e também a versão de Ney Matogrosso para Explode Coração e a de Elza Soares de O Que É o Que É?.

Além de Zélia Duncan, saíram do teatro com mãos cheias de prêmios Caetano Veloso (dois troféus, pelo CD Dois Amigos, Um Século de Música, gravado com Gilberto Gil, e cantor de MPB), Fafá de Belém (CD de canção popular, Do Tamanho Certo para o Meu Sorriso, e cantora), Elba Ramalho (CD regional, Cordas, Gonzaga e Afins, e cantora) e Yamandu Costa (CD instrumental, Tocata à Amizade, com Rogério Caetano, e pela dupla formada com o também violonista).

As escolhas foram de 21 jurados. O jovem Alfredo Del-Penho, que lançou dois CDs via financiamento coletivo, superou Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz como cantor de samba, e estava exultante. “Ouço Zeca todo dia. Meus CDs não tinham interessado às gravadoras, só foram gravados graças à ajuda das mil pessoas que contribuíram.”

A novata banda Dônica, integrada pelo caçula de Caetano, Tom Veloso, também festejou muito seu prêmio de melhor grupo de MPB. “Tenho 19 anos, não estou entendendo o que está acontecendo. Saberei daqui a uns cinco anos”, declarou José Ibarra, tecladista e vocalista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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