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Zika pode provocar alteração neurológica até a idade escolar, acreditam médicos

Microcefalia e graves problemas oculares podem não ser as únicas consequências do zika vírus em crianças infectadas na barriga da mãe. Com o avanço de casos no Brasil, especialistas passaram a afirmar que, no futuro, outros prejuízos neurológicos, como atraso intelectual ou perda auditiva, poderão ser associados à infecção e detectados somente no início da vida escolar.

O diagnóstico, no entanto, só poderá ser feito com propriedade se os bebês nascidos de meados do ano passado para cá, quando teve início a epidemia no País, receberem acompanhamento médico rotineiro. Especialistas ouvidos pelo Estado afirmam que todas as crianças de mulheres que tiveram suspeita ou confirmação de zika durante a gestação devem ter seus filhos monitorados, independentemente de quadros associados de microcefalia.

“Isso é essencial, porque algumas alterações neurológicas podem ser detectadas futuramente apenas, como dificuldades de leitura e de aprendizado. Dar assistência às mulheres infectadas não quer dizer acompanhá-las até o parto, mas até que seus filhos cheguem à escola”, diz o infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto Emílio Ribas.

A expectativa de que outros problemas de saúde possam ser relacionados ao zika vírus no futuro é explicada pela sua “semelhança” com algumas doenças também perigosas para gestantes, como a rubéola, a toxoplasmose e a citomegalovirose. Todas podem provocar desde quadros de microcefalia a perda progressiva da visão, surdez e diferentes graus de atraso intelectual.

“Você pode apostar que vamos ter milhares de crianças com perímetro encefálico normal e que vão ter manifestações de atraso relacionadas ao zika, caso se confirme que o vírus segue mesmo o padrão dessas outras infecções. A criança pode não conseguir aprender a ler, por exemplo. E o quadro inicialmente ser de dislexia, de déficit de atenção”, diz o médico geneticista da Apae-SP, Theoharis Efcarpidis.

Temor

Até o surgimento do zika, rubéola e toxoplasmose eram as doenças mais temidas por grávidas, apesar de mais facilmente controladas. A primeira tem vacina e a segunda pode ser evitada com hábitos simples, como ingerir alimentos bem cozidos. Mas, se infectadas, as gestantes podem transmitir essas doenças aos bebês, com consequências para o resto da vida.

Foi o que aconteceu de forma silenciosa com a enfermeira Carina Galvão do Nascimento, de 46 anos. Ela teve uma gravidez tranquila e deu à luz sua primeira filha em março de 2002 sem qualquer problema aparente. Mas, quando Catarina começou a engatinhar, a mãe reparou que havia algo errado com a visão da filha. “Ela tinha muita dificuldade para se locomover e ficava muito perto da TV”, diz.

Preocupada, a enfermeira foi atrás de respostas e descobriu que Catarina tinha uma cicatriz no fundo dos olhos, provocada por uma lesão na retina. Segundo o médico oftalmologista que deu o diagnóstico, a causa foi uma infecção que Carina contraiu durante a gravidez, a toxoplasmose. “Eu tinha um cachorro na época, mas não se sabe se foi transmitida por ele, por carne crua ou por contato com algum gato. O fato é que só descobri que tive a doença depois que minha filha já havia nascido.”

Com 13 anos, mesmo com dificuldades para enxergar, Catarina frequenta a escola e, segundo a mãe, é “a primeira aluna da sala”. “Ela é um dos meus orgulhos. Chegou a usar lupa para conseguir copiar os escritos da lousa, mas hoje leva uma vida normal.”

Se o zika se comportar da mesma forma que a toxoplasmose e a citomegalovirose, as dificuldades de Catarina poderão ser detectadas em crianças infectadas pelo vírus ainda na barriga da mãe. Nestes casos, assim como ocorre com os quadros de microcefalia, estímulos precoces são considerados essenciais para uma melhora no desenvolvimento da criança.

“Saber a origem de cada quadro é o primeiro passo. A partir daí, pode-se iniciar o acompanhamento adequado em busca de qualidade de vida”, completa Efcarpidis.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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