A primeira audiência pública sobre o projeto de lei de zoneamento na Câmara Municipal de São Paulo foi marcada pela grande participação da população no debate – cerca de 500 pessoas estiveram no local – e por bate-bocas.
Moradores dos Jardins, na zona oeste da capital paulista, compareceram em massa para defender que ruas da região permaneçam como Zonas Exclusivamente Residenciais (ZERs) e não se transformem em Zonas Corredor (ZCors), o que permitiria a entrada do comércio. Das cerca de 30 pessoas que se manifestaram, ao menos dez falaram sobre a região dos Jardins – e apenas uma delas foi a favor das mudanças previstas na lei.
“Queremos a flexibilização de usos das zonas, somos a favor das Zonas Corredor na Avenidas Europa e na Rua Colômbia. Os movimentos que querem manter os Jardins como Zona Estritamente Residencial não representam a totalidade dos seus moradores, representam tão somente os seus associados. Já temos um documento com 30 mil assinaturas pedindo essa mudança”, afirmou Geraldine Maia, do Movimento Zoneamento Real, primeira a falar.
Geraldine foi interrompida por gritos e vaias de integrantes dos movimentos do bairro.
Os contrários à lei reclamaram do adensamento populacional que deve ser promovido com a promulgação da lei e da possibilidade de construir “centenas” de prédios na Rua Estados Unidos e nos arredores.
“Quando olhamos para Cerqueira César, vemos várias ruas comerciais, como a Oscar Freire, a Alameda Lorena, a Rua Augusta. Quando ouvimos que a proposta é descentralizar a cidade, logo pensamos: porque concentrar mais onde já é absurdamente adensado?”, questionou um representante da Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreendedores do bairro Cerqueira César (Samorcc).
Patrícia Tomasini, moradora dos Jardins, compartilhou da mesma opinião: “O nosso movimento não é profissional. Nós nos unimos para defender a qualidade de vida”, relatou. “Defendemos o direito de morar bem e a expansão dessa zona maravilhosa para o resto da cidade. As áreas estritamente residenciais estão sendo espremidas, nós estamos sendo espremidos.”
Ela também disse que tinha “cartas na manga” jurídicas para usar contra o projeto de lei.
No fim dos debates, o secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, questionou a afirmação de Patrícia. “Fiquei assustado quando Patrícia falou sobre ter cartas na manga. As audiências públicas devem ser o mais transparentes possíveis, nós devemos a transparência”, disse ele à plateia.
Patrícia respondeu, gritando, que quem tinha de ser transparente era ele. “É preciso ter consciência de que não vivemos em uma ilha”, retrucou o secretário.
Essa foi a primeira de 48 audiências públicas programadas sobre a lei de zoneamento, que deve ser votada até o fim do ano. Os vereadores, no entanto, afirmam que mais audiências poderão ser feitas se necessário. A proposta do Executivo repercutiu principalmente nos bairros de alto padrão, já que o norma que ainda aguarda votação do legislativo permite, pela primeira vez, a instalação de comércios e serviços nas chamadas ZERs.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.