As dezenas de operações da Polícia Federal nos últimos anos, em especial da Lava Jato, tiveram um efeito significativo sobre a percepção da corrupção entre os executivos brasileiros. Uma pesquisa realizada por um conjunto de escritórios de advocacia em 19 países mostra que 93% dos executivos brasileiros conhecem uma empresa ou indivíduo corrupto, ante uma média de 64% entre executivos da América Latina e Estados Unidos.
No Brasil, a pesquisa foi conduzida pelo escritório KLA Advogados com cerca de 700 executivos e advogados de empresas. Ela já está em sua terceira edição e é feita a cada 4 anos.
Os advogados Isabel Franco e Eloy Rizzo chamam a atenção para o porcentual dos pesquisados que acreditava que um indivíduo seria processado caso fosse flagrado em um esquema de corrupção. Em 2008, apenas 15% dos entrevistados acreditavam nisso. Esse porcentual saltou para 75% em 2012, embalados pelas diversas operações rumorosas da PF, como Satiagraha e Castelo de Areia, entre outras. Mas segundo os advogados, a Lava Jato é a responsável por fazer esse número chegar a 90%. Também a Lava Jato pode ser uma explicação para o alto porcentual de executivos que acreditam que os partidos políticos são os mais envolvidos em esquemas de corrupção: 94%.
Apesar de os executivos acreditarem que um processo judicial ou administrativo é inevitável, a maioria ainda acredita que os acusados sairão impunes. Apenas 26% dos entrevistados acreditam que as leis são efetivas para esquemas de corrupção. No mapa da percepção de corrupção nas Américas, o Brasil é considerado o segundo pior lugar para se fazer negócios, perdendo apenas para a Venezuela. Mas os outros países têm uma boa percepção do Brasil em relação ao combate a práticas ilícitas, e o Brasil é visto como um dos mais desenvolvidos no quesito, ao lado de Estados Unidos.
Outro dado interessante é o conhecimento justamente das leis anticorrupção. A lei brasileira entrou em vigor em janeiro de 2014 e foi regulamentada no ano passado. Mas 86% dizem conhecer a lei e 62% dizem ter familiaridade com ela. Mesmo os americanos conhecem a lei brasileira, cerca de 74% dos entrevistados.
Leniência
Mas apesar da nova lei anticorrupção no País, em que as empresas são responsabilizadas independentemente de terem sido favorecidas ou não pelo ato, ainda há relutância em informar às autoridades quando se descobrem práticas ilícitas nas organizações. Alguns advogados recomendam que as companhias façam suas investigações e eliminem o problema internamente, mas não comuniquem às autoridades, a não ser que já estejam sendo investigadas ou que sejam alvo de delatores.
Um dos problemas é que autoridade buscar para se fazer um acordo de leniência: Ministério Público, Ministério da Transparência, Cade ou Tribunal de Contas da União? E, se for um problema de corrupção envolvendo municípios e Estados, o problema é ainda maior, já que cada uma dessas esferas pode fazer seu próprio processo contra empresa corruptas. A advogada Fabíola Camarota, do escritório Souza, Cescon, lembra ainda uma outra questão pela qual passam as empresas brasileiras hoje: a publicidade do ato de corrupção, que afeta diretamente a imagem das organizações e dificulta acesso a crédito.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo