Opinião

Os fichas sujas estão livres

Soou como um banho de água gelada a decisão do Supremo Tribunal Federal, semana passada, liberando para tomar posse todos os candidatos sem ficha limpa que foram eleitos em 2010. Pior: diferente do que muita gente pensa, a nova lei pode não valer para 2012, já que a Justiça pode mudar ainda sua aplicabilidade. Ou seja, se você foi um dos milhões de brasileiros que assinaram o projeto de autoria popular que impedia a eleição e posse de candidatos fichados na Justiça junte-se ao bloco dos bobalhões, conforme determinou a suprema corte brasileira.


Desta forma, toda aquela onda criada ao longo do processo eleitoral no ano passado de se rejeitar candidatos que já tiveram condenação na Justiça não deu em nada. Pior. Vários deles, que concorreram sob liminar, como foi o caso do ex-governador Paulo Maluf, só para cita um, foram muito bem votados, e ainda, graças a recursos obtidos na própria Justiça, assumiram seus cargos. Com a decisão do STF, têm seus mandatos intocáveis. Ou seja, é algo como a liberação da bandalheira, de forma oficial, e com a anuência de milhares de eleitores que não estão nem aí para o passado daqueles que escolhem para representá-los. Talvez esse seja um dos maiores males da sociedade brasileira.


Lamentável também perceber que velhas situações se repetem, piorando ainda mais a imagem de nossas instituições. Basta ver a formação da Comissão de Ética da Câmara Federal, que abriga vários deputados fichas sujas ou envolvidos em escândalos nacionais ou regionais. Entre eles, destaque-se a presença de João Paulo Cunha, do PT, ligado diretamente ao mensalão (que não deu em nada, diga-se) e Abelardo Camarinha (PSB), campeão de processos tramitando na Justiça.


Quando esse tipo de coisa acontece, cresce o coro daqueles que apontam que nada vai mudar. Que o Brasil não tem jeito mesmo. Que político é tudo igual. Que não adianta votar. Os ministros do STF, desta forma, perderam uma grande oportunidade de ouvir o clamor popular e deixar de fora gente que jamais poderia representar a população e legislar por ela. Ao fechar os ouvidos ao povo, a suprema corte deu atestado de idoneidade a quem não merece qualquer crédito. Que, diferente do que se prevê, o eleitor arregace as mangas e passe ele a decidir o futuro de nosso país. E isso só tem um jeito: votando de forma mais consciente.

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