Naquele papo de elevador, o vizinho se diz surpreso com a velocidade com a qual o ano de 2014 começou e terminou. Pá pum, já era. Difícil, diante de todas as obrigações diárias, foi acompanhar a boa safra de novidades na música nacional independente. Artistas e bandas que você certamente ouvirá falar e pensar: como não ouvi esses caras antes? Nesta retrospectiva às avessas, trazemos as bandas que já fizeram algum barulho em 2014, mas que certamente brilharão mais forte neste 2015.
A começar pelo Dônica, um ótimo nome da música carioca que está pronto para colocar os dois pés no mainstream e estourar nas rádios – sim, elas ainda existem, ainda que sejam raridades. Com o primeiro EP lançado no fim de 2014, com o mesmo nome da banda, os garotos já assinaram contrato com a gravadora Sony e planejam o disco de estreia para março.
Quarteto no palco, eles ainda contam com Tom Veloso, filho de Caetano, como quinto elemento e integrante do grupo, que assina como compositor. Há uma mineirice na sonoridade do quinteto, ainda formado por José Ibarra (voz e teclado), Miguel Guimarães (baixo), André Almeida (bateria) e Lucas Nunes (guitarra). Um quê de Clube da Esquina no rock progressivo importado do Reino Unido. Assim como Baleia e Séculos Apaixonados, outras duas banda de destaque do cenário fluminense que você certamente ouvirá em 2015, a malemolência carioca se faz presente, como se as ondas das praias da cidade exercessem uma força natural sobre os músicos. Malemolência pop, evidentemente.
Ainda do Rio, a instigante Pessoal da Nasa, banda cujo nome surgiu de inspiração de um verso de Arnaldo Baptista, na música Será Que Vou Virar Bolor?, na qual diz “não gostar do pessoal da Nasa”. A voz rouca de Dado Oliveira é descompromissada e voa solta por letras consistentes. Um EP com quatro músicas já saiu (ouça a pesada Londres) e o disco cheio chega em algum momento de 2015.
O rock chegou mesmo em 2014. Jonnata Doll e Os Garotos Solventes. Do proto-punk acelerado ao post-punk de The Cure e Smiths, sempre liderado por um vocalista endiabrado como uma versão mais afetada de Iggy Pop – e com dotes de dança do ventre, acredite. As letras estarrecedoras passeiam por os excessos de Jonnata e seus amigos, drogas, pedofilia e uma boa dose de corações partidos.
Força explosiva também veio de Goiânia, cidade que parece ferver de novidades musicais todos os anos. Carne Doce lançou o disco de estreia aos 30 minutos do segundo tempo de 2015 e garantiu um lugar de destaque em diversas listas de melhores do ano. Com um pé no pop e outro no experimental, a banda é guiada pela voz assustadoramente versátil de Salma Jô e pela guitarra de Macloys Aquino. O primeiro disco tem uma poderosa força gravitacional que puxa o ouvinte para dentro deste universo paralelo e inesperado, com versos cheios de gozos, amores e desesperos.
Lançado no início de 2014, o disco de estreia da banda Luziluzia (nome que vem do verbo luziluzir) não fez o estrago devido pelo simples fato de que o vocalista e baixista, Raphael Vaz, e o guitarrista Benke Ferraz, passaram 2014 viajando o mundo com a outra banda deles, Boogarins, no baixo e guitarra – esta não entra na lista de revelações pelo simples fato de já ter pipocado em 2013 e se consagrado na cena independente nacional no ano seguinte. Come on Feel the Riverbreeze aproxima as guitarras lisérgicas do Boogarins de um dream pop malicioso, cheio de anseios e questionamentos constantes presentes na cabeça de jovens de 20 e poucos anos.
De Minas Gerais, dois nomes que não são exatamente novos, mas que prometem voos maiores em 2015, são do músico Nobat e da banda Câmera. Ele prepara um punhado novo de canções para o segundo álbum, unindo baladas melancólicas ao violão como Não Deu e o encontro com sintetizadores eletrônicos de LSD, em uma versão sombria do capixaba Lucio Silva. Já Câmera lançou o primeiro disco, Mountain Tops, após 36 meses de gestação e dois EPs. Embora possua momentos solares, o álbum parece trazer tempos cinzentos e, assim como Nobat, a voz de André Travassos não quer ser mais do que ninguém e aceita dividir as atenções com as distorções chorosas das guitarras.
De (ou em) São Paulo, destacam-se bandas e artistas que não se veem presos por amarras e exploram livremente as fronteiras de tempo e espaço. Charlie e os Marretas são pólvora pura com um funk com gingado latino, enquanto Zá Coelho aposta num pop ancorado na voz cristalina. Murilo Sá, baiano de nascimento e paulistano de coração, busca inspirações nos primórdios roqueiros dos anos 60 e 70, com letras em português e prontinhas para tocar em algum rádio por aí. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.