Na entrevista que deram ao jornal O Estado de S.Paulo durante a Comic-com, o codiretor Dan Hall e o produtor Roy Conli, de Operação Big Hero, estavam felizes da vida com o sucesso da animação adaptada de um herói da Marvel. O filme da Disney, seguindo-se ao megassucesso de Frozen – mais de US$ 1,2 bilhão arrecadados em todo o mundo -, poderá não chegar tão longe, mas de cara bateu a bilheteria de Interestelar, a ambiciosa (e muito boa) ficção científica de Christopher Nolan, nos cinemas dos EUA. Viva a Disney. Viva a Pixar, já que foi John Lasseter, agora mandachuva no estúdio do velho Walt, quem exortou Hall & Conli a fazerem Big Hero.
Foram anos de trabalho – mais de quatro – e um problema que exigiu muita dedicação para ser superado. Como toda produção de Lasseter, Big Hero demandou muito trabalho dos roteiristas. Como John gosta de dizer, as modernas ferramentas da animação digital permitem criar tudo, mas o tudo quem define não é a técnica e sim, o roteiro. É a história que tem de vir em primeiro lugar. A de Big Hero passa-se numa cidade chamada Fransokyo, mistura de São Francisco e Tóquio, com a ponte da primeira e as cerejeiras da segunda.
É aí que vive o pré-teen Hiro Hamada, um nerd que é gênio de informática (e invenção). Hiro desperdiça o que para o irmão mais velho – Tadashi – é seu talento ao concentrar energia em robôs que lutam. Incentivado por Tadashi, Hiro entra para a universidade, mas ocorre um incidente mortal justamente com a nova invenção de Hiro. Seu irmão morre, ele fica meio sem rumo, até prestar atenção num volume legado por Tadashi. Dele emerge o Big Hero, Baymax, uma bola branca criada por Tadashi para proteger o irmão, já prevendo que Hiro e ele poderiam ser vítimas de ladrões de tecnologia.
O grande desafio – a dificuldade relatada por Hall e Conli – refere-se justamente ao formato do Big Hero. Como uma bola branca, ele não possui nenhuma sutileza, digamos física. Você pode imaginar que nunca houve personagem mais fácil de fazer, e animar. Nada mais equivocado – Hall e Conli contaram que Baymax quase deixou loucos os animadores da Disney, que sofreram para desenvolver os programas de computação necessária à iluminação da criatura. O mistério da luz, refletindo-se sobre a bola que Baymax não deixa de ser, criava um problema aparentemente insolúvel de reflexo. “Foi muito trabalhoso, mas no final deu certo”, disse Conli.
Havia essa questão técnica, mas havia também outra de ordem mais dramática. O filme decola com a relação complicada dos dois irmãos e prossegue com Hiro e Baymax, que vive repetindo que Tadashi, o irmão morto, está ali com eles. Ao longo da trama, você descobre como isso é possível. Mais difícil de aceitar, considerando-se como a Pixar/Disney preocupa-se com a dramaturgia, é o imbróglio que faz com que um suposto aliado vire vilão. No limite, e face à iminente destruição do mundo, Hiro e Baymax precisam viajar no tempo e no espaço para resgatar uma pessoa, peça fundamental do puzzle.
Essa viagem inspira-se em Stanley Kubrick, o túnel de luzes e cores de 2001, Uma Odisseia no Espaço. Apesar dessa referência decisiva, Hall e Conli admitem que a sombra de Hayao Miyazaki projeta-se sobre o filme. “John (Lasseter) é louco por ele, pela forma como cria personagens e histórias para adultos e crianças. Esse crossover é o que buscamos na Pixar e, sob certos aspectos, também na Disney, que mantém uma produção mais familiar.” Big Hero não é grande, mas é bom. E confronta o público – infantil como adulto – com a dor da perda. Com a amizade e a fraternidade, seu tema é o luto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.