O curioso caso de Mac McCaughan. Aos 47 anos, o músico que criou o Superchunk, uma das mais adoradas bandas do indie norte-americano do fim dos anos 1980, porta-bandeira do “faça-você-mesmo” e presidente do selo Merge Records (que lança artistas como Arcade Fire, Magnetic Fields, Neutral Milk Hotel e Teenage Fanclub) ainda não é capaz de se sentir completamente confortável ao lançar um disco solo. O nome dele na capa assusta. Ainda assim, a empreitada foi concluída e será apresentada no festival Balaclava Fest, neste sábado, 25, à noite.
Non-Believers, que será lançado no dia 5 de maio, é curiosamente o álbum de estreia de McCaughan. Quase trinta anos depois de lançar músicas sob a “proteção” de nome de bandas, como com o mais conhecido Superchunk, e o projeto solo disfarçado de grupo Portastatic (além de outros empreendimentos musicais como Seam, Bricks e Go Back Snowball), ele se viu encurralado. “Eu tinha, na minha cabeça, encerrado o Portastatic. Não fazia sentido voltar a ele”, conta McCaughan. Portastatic funcionou como principal válvula de escape criativa do músico nos tempos de Superchunk, mas, seis discos depois, McCaughan estava esgotado. “Quando o Superchunk diminuiu suas atividades, fui compor e sabia que sairia um disco dali.” O álbum foi gravado e mixado em 2014.
Doutrinado na música por bandas, e não “cantores e compositores”, como ele diz, McCaughan encara com delicadeza a ideia de que Non-Believers é o debute solo dele. “Eu não posso dizer que estou completamente confortável com isso. Cresci ouvindo bandas. Estar numa banda sempre foi mais legal”, diz. “Ao mesmo tempo, eu pensei que estou fazendo música há quase três décadas, pensei que talvez fosse o momento de tentar algo novo.”
Esteticamente, o novo disco escancara o refinamento adotado por McCaughan na beira dos 50 anos. Nenhuma batida precisa ser acelerada a não ser que seja completamente justificável. Não existe a urgência da juventude. Pelo contrário, transborda confiança e arranjos límpidos e até interessantes incursões de teclado e sintetizador – a sujeira lo-fi ainda está ali, é bom lembrar, na voz rouca e vacilante de McCaughan e numa ou outra guitarra que soe mais barulhenta, como na pulsante Box Batteries. Your Hologram, que abre o disco, foi a canção que direcionou sonoramente a criação de McCaughan. “Depois dela, tinha uma ideia de como gostaria de soar.”
Para promover o álbum, McCaughan lançou um trailer bucólico, gravado no interior de um carro, enquanto dirigia por um subúrbio norte-americano qualquer ao som de Lost Again, melhor canção do álbum. “Acho que essa música e esse vídeo registram um pouco da minha ideia do que eu queria para esse disco”, explica. “É tentar entender aquelas pessoas que viviam nos subúrbios dos Estados Unidos durante os anos 1980, quais eram as possibilidades delas. Há muita coisa interessante ali.”
A fonte de inspiração está justamente naquilo que fez com que os jovens de Chapel Hill, na Carolina do Norte, se juntassem para ter uma banda. Vinte e seis anos depois da criação do Superchunk, ainda é o tedioso e adorável subúrbio que ainda move McCaughan.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.