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Ná Ozzetti e Zé Miguel Wisnik lançam disco em dupla

Há intérpretes que se identificam com determinados compositores e é como se com eles recarregassem a bateria a cada etapa da comunicação musical, como é o caso de Caetano Veloso com Gal Costa. Em Ná Ozzetti há essa ela relação com Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik desde o início de carreira. Com registros antológicos de canções de Wisnik, agora Ná celebra três décadas desde o primeiro encontro com ele com um precioso álbum em dupla, “Ná e Zé” (Circus), que tem shows de lançamento desta sexta-feira, 22, a domingo, 24, no Sesc Vila Mariana. Wisnik toca piano e faz algumas intervenções vocais, mas naturalmente é Ná quem brilha nesse setor, como se fosse um Elis & Tom à moda deles.

Há canções novas e antigas, incluindo duas das quatro de Wisnik que Ná gravou em seu primeiro álbum solo (“A Olhos Nus” e “Orfeu”). Não se trata de uma retrospectiva nostálgica de seu cofre de canções, mas um songbook dinâmico que expõe diversidade temática, lírica e melódica com toques fundamentais do produtor e habilidoso instrumentista Marcio Arantes, músico que, como Swami Jr., Sérgio Reze e Guilherme Kastrup, tem profundo entendimento das nuances do compositor. A ideia de gravar em estúdio essas canções (de 1978 a 2014) veio do show “A Olhos Nus”, que eles fizeram há mais de um ano. “A matriz de toda produção musical que se desenvolveu no disco parte dessa vivência, onde há muita contribuição de todos”, diz Ná.

Depois de três álbuns distintos com a mesma banda liderada por Mario Manga, Ná experimenta outras sonoridades, com sutis texturas eletrônicas, solos de guitarra e outros detalhes que surgem em camadas e correntes, com muitas ideias propostas por Arantes. Isso inclui a mixagem de Gustavo Lenza e a masterização de Felipe Tichauer, “fundamentais” para Ná. Há também participações de Arnaldo Antunes no vocal e do maestro baiano Letieres Leite no arranjo e arregimentação de sopros em “Noturno do Mangue” (sobre poema de Oswald de Andrade) e Marcelo Jeneci (vibrafone em “Orfeu”).

“Há uma precisão nas nossas performances que são orientadas pelo Zé. As intenções têm de ser definidas e claras, acertar o alvo”, diz a cantora. Bem diferente de seus registros em outros discos, Wisnik diz que, na colaboração com Arantes, procurou “explorar sonoridades mais compactas, combinações instrumentais inesperadas, alguns processamentos e efeitos de mixagem inusuais”, mas “sempre cuidando para não trair a verdade da canção”.

Wisnik tem canções solo, outras em parceria com Paulo Leminski (como a bela e recente “Gardênias e Hortênsias”, inédita que abre o álbum), Alice Ruiz, Paulo Neves e Marina Wisnik, e o disco encerra com outro poema (de Cacaso) transformado em tocante canção: “Louvar”. “Desde a primeira vez que cantei uma composição do Zé, e as que vieram na sequência, senti que, independentemente da minha admiração por estas, minha voz gostava das canções. Gostava de se deixar levar pelas melodias, com o sentido das palavras, da sensação física e sensível que elas provocavam no meu canto”, diz Ná.

“Tudo Vezes Dois” foi feita para a Ná e a Suzana Salles, no dia do aniversário delas (ambas nasceram em 12 de dezembro). Embora Wisnik não pense no ou na intérprete quando compõe, diz que daí pode vir uma afinidade que independe da intenção. “Alegre Cigarra, A Olhos Nus e A Noite, por exemplo, foram compostas antes de eu conhecer a Ná, mas é difícil imaginar agora essas músicas cantadas por outra pessoa”, diz Wisnik. “Luiz Tatit diz que essas e outras canções antigas do disco ficaram guardadas tanto tempo porque estavam esperando a hora de serem gravadas por ela.” Nem tudo passa de coincidência.

NÁ OZZETTI E JOSÉ MIGUEL WISNIK
Sesc Vila Mariana (Rua Pelotas, 141, 5080-3000). Hoje e amanhã, 21h; dom., 18h. R$ 9/ R$ 30.

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