Variedades

Adaptação para teatro inspira Ruy Castro a adotar mudanças

Reconhecido por biografias irrepreensíveis (Nelson Rodrigues, Garrincha, Carmen Miranda, para citar algumas), Ruy Castro conta que nem no momento de liberdade criativa promovido por Bilac Vê Estrelas conseguiu se soltar das obrigações de pesquisador.

“Todo biógrafo, até para se desintoxicar, deveria fazer alguma experiência em ficção. A possibilidade de trabalhar um dia com a imaginação, e não com a fanática busca da informação, é maravilhosa”, acredita. “Mas não adianta, você não consegue mudar as pintas do leopardo. Para escrever o romance, em 2000, levei um ano estudando o Rio do começo do século 20 e os principais personagens da história: Bilac, José do Patrocínio e a turma de intelectuais da Colombo. Então, tudo que está no romance é real: roupas, costumes, comidas, gírias, meios de transporte, etc. Só a história era inventada. E, mesmo assim, nem tanto, porque o Patrocínio realmente começou a construir um dirigível, com o apoio do Bilac, e o dirigível realmente pegou fogo. Os próprios vilões, o padre e a espiã portuguesa, também existiram, só que com outros nomes.”

Segundo ele, tal acúmulo de detalhes, habitualmente dispensados quando um livro é adaptado para o cinema ou o teatro, teve utilidade. “Heloisa Seixas e Julia Romeu fizeram algumas mudanças importantes na trama, o que é inevitável quando se transpõe uma linguagem para outra, e achei tão boas que estou até pensando em incorporá-las ao romance. Por exemplo, os irmãos Wright não estavam no livro. E não consigo mais pensar na história sem eles. E já estou achando difícil pensar no Bilac sem me lembrar da caracterização do André Dias. Acho que nem o Bilac se pareceu tanto consigo mesmo quanto o André!”

O trabalho de adaptação foi tranquilo e flui com facilidade, segundo contam Heloisa e Julia, mãe e filha – e Heloisa é casada com Ruy. “Escrevemos juntas quase o tempo todo, trocando ideias, mas, às vezes, cada uma leva o texto para casa, relê e faz sugestões. Ninguém é responsável exclusivamente por uma parte, mas a Heloisa fica mais a cargo da estrutura da peça e eu, dos diálogos”, explica Julia, em depoimento divulgado no material da assessoria de imprensa.

Segundo elas, o trabalho de adaptação demorou dois anos e a pesquisa foi muito além do romance que inspirou o espetáculo. “Não apenas lemos o livro, mas mergulhamos na obra do Bilac, em seus poemas e crônicas, e estudamos muito o Rio do início do século 20. Essa época é muito charmosa e tem paralelos com o momento que estamos vivendo agora, de intensas mudanças na cidade”, acrescenta Julia.

Na condução do espetáculo, João Fonseca disse, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo no ano passado, quando estreou no Rio. “No caso de Bilac, isso não aconteceu, na medida em que é um passado distante de mim. Senti mais nostalgia nos espetáculos que dirigi sobre Cassia Eller e Cazuza, que trouxeram à tona uma época que vivi”, diferencia Fonseca, que assinou ainda musical sobre Tim Maia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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