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Mostra A Estratégia do Olhar será aberta hoje

Muitos já o definiram como um flâneur da cidade, mas o olhar aguçado do Cristiano Mascaro é muito mais do que isso. Talvez melhor seria defini-lo como um andarilho que percorre ruas e calçadas buscando algo que, de alguma forma, não planejou, mas sabe que vai encontrar. Uma luz que ilumina, um espaço que se transforma, um detalhe que assombra: “Para mim, fotografia é aquilo que é construído por meio do olhar”, engendrado no meio do verde do jardim de sua casa na Granja Viana. E embora paradoxal é na quietude da mata que ele escolhe, seleciona e constrói sua visão de cidade e também da arquitetura: “A cidade não tem unidade, ao contrário da paisagem. Um passo e tudo muda”, explica, enquanto apresenta as fotografias que compõem sua mais recente mostra, A Estratégia do Olhar – Detalhando a Arquitetura, que será aberta nesta terça, 24, na Pequena Galeria 18.

Arquiteto de formação, não se esquece do encanto que uma foto de Cartier-Bresson causou nele, há mais de 50 anos, ao folhear o livro Images à la Sauvette”, na biblioteca da FAU, como também não esquece de seu professor João Xavier, que o apresentou ao reconhecido fotógrafo suíço-americano Robert Frank: “Sempre me lembro da generosidade do mestre que me apresentou a revista Camera e me mostrou um trabalho que Robert Frank fez fotografando as pessoas e as cidades de dentro de um ônibus”.

As imagens de Cristiano Mascaro interpretando e retratando metrópoles são conhecidas por vários livros publicados e pelas numerosas exposições que ele já realizou. Mas, desta vez, o convite feito pelo curador Mario Cohen, proprietário da Pequena Galeria o desafiou. Não mais as cidades, mas detalhes da arquitetura. Agora, o foco seria o pequeno. “Para selecionar imagens para esta exposição, mergulhei no meu arquivo e me dei conta que sempre explorei os aspectos gráficos e plásticos da arquitetura”, explica o artista paulista.

No fim, foram 22 os registros selecionados entre os realizados nos últimos anos, de 1996 a 2015. “Imagens que já nasceram assim. Ainda guardo o vício da época da fotografia analógica de não mexer na imagem, embora reconheça hoje o valor de uma pós-produção.” O curador da mostra acrescenta: “Estamos acostumados a ver as imagens do Cristiano retratando grandes obras, grandes espaços urbanos e reproduzidas em grandes dimensões. Desta vez, selecionam fotos de detalhes arquitetônicos e as reproduzimos em pequenas dimensões. O detalhe revela o todo, o detalhe visto pelos olhos do artista deixa de ser um pormenor e passa a ser o todo”, revela.

Cristiano Mascaro sempre teve na literatura a inspiração de seus trabalhos. “Sempre fui fascinado pela literatura e a vida dos escritores, pela maneira como eles conseguem representar a vida, seja de forma ficcional ou realista, e acho que essa forma de pensamento é semelhante à de produzir uma fotografia”, diz ainda. “Para mim, a crônica é muito próxima da fotografia”, reforça Mascaro.

Assim como um escritor, ele vai escrevendo suas percepções dos lugares que visita e que retrata: “O fascinante da fotografia é perceber que ninguém olhou para algo daquele jeito”, e se apropria de algumas observações de seus autores preferidos, como Antonio Candido, que, num dos textos de seu livro Recortes, se refere ao ato de escrever como o de “desfazer e refazer a realidade”. É desta forma que Cristiano pensa a fotografia, uma realização intuitiva. Ou como escreve outro de seus autores preferidos, Ernesto Sábato, no livro O Escritor e Seus Fantasmas: “As dificuldades são mais úteis do que as facilidades”. E é por isso que Cristiano Mascaro sempre consegue ver algo de novo no já visto, com a delicadeza e o preciosismo de quem tece uma narrativa pessoal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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