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David Gilmour se apresenta em São Paulo com dois shows já esgotados

Em certo momento do encontro com jornalistas brasileiros e chilenos, dentro do Allianz Parque, estádio que receberá a primeira e segunda apresentações de David Gilmour em solo latino-americano, nesta sexta, 11, e sábado, 12, o ex-guitarrista e líder do Pink Floyd deixa escapar a frase talvez mais pessoal entre todas as outras ditas por ele. “Sempre gostei de fazer parte de um grupo”, disse ele, olhando ligeiramente para o lado direito. Buscava, talvez, refúgio nos olhos da mulher, a escritora e letrista Polly Samson, com quem ele divide os créditos dessa mais nova empreitada musical, o disco Rattle That Lock (Sony Music), lançado recentemente e motivo responsável por colocar Gilmour de volta às estradas.

O álbum solo, embora tenha grandes colaborações de Polly e do produtor Phil Manzanera (guitarrista do Roxy Music), interrompe um período de nove anos sem material inédito do músico. O último disco solo, o mais solar On an Island, saiu em 2006. Depois disso, Gilmour se dedicou ao trabalho final do Floyd, The Endless River, lançado o ano passado, encerrando assim a trajetória de uma das bandas mais importantes do rock mundial.

A frase dita por Gilmour explicita o artista complexo, mas que não vive de urgências criativas ou coisas do tipo. A criação, o ato de compor, não é uma necessidade solitária ou qualquer outra das tantas justificativas dadas por outros músicos. Para Gilmour, criar o novo está diretamente ligado à colaboração. A duas ou mais cabeças pensando, juntas, na solução, na saída para alguns labirintos musicais.

Sempre foi assim, na verdade. Mesmo quando enfrentava Roger Waters de frente, durante o tempo em que o baixista comandou o Floyd, o atrito entre as duas forças criativas, ainda auxiliadas por Nick Mason e Richard Wright, era o combustível para elaborar discos da fase áurea da banda, principalmente na década de 70, como The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975), Animals (1977) e The Wall (1979).

Quando Waters deixou o Floyd, Gilmour tomou as rédeas da banda. Comemorou a saída com o disco sugestivamente chamado de A Momentary Lapse of Reason (1987) (“lapso momentâneo de razão”, em tradução literal), mas o fôlego já não era mais o mesmo. No papel principal, comandou o grupo em The Division Bell (1994) e no recente The Endless River (2014).

Por mais que não diga, a saída de Waters colocou o processo de criação de Gilmour em marcha lenta. Até mesmo os trabalhos solo são raros. Foram quatro ao longo dessas mais de cinco décadas de atividade: David Gilmour (1978), About Face (1984), On an Island (2006) e Rattle That Lock (2015).

Boa parte da história musical de Gilmour é escancarada nessa turnê do mais recente trabalho, com muita canção do Pink Floyd, para fã nenhum reclamar demais. Como é possível ver na lista acima, clássicos como Wish You Were Here, Money, Shine on You Crazy Diamond, Time, Breathe e Comfortably Numb devem estar presentes no show, que também é marcado pelos telões de alta definição e espetáculo visual. “É algo difícil conseguir criar um set list. Pensa: depois desses anos todos, muita música fica de fora”, diz um polido Gilmour. “Sinto muito se não tocar a sua música preferida.”

A parceria de Gilmour, desde 1993, é com a mulher dele. Polly Samson ajuda o marido nas composições, nos versos, e aproveitou a vinda dele ao País para lançar seu livro Um Ato de Bondade (Record, R$ 39,90). O britânico até se arriscou a falar, em português, o título do trabalho da mulher, com algum talento. Ela retribuiu ao dizer que o momento mais especial de composição de uma faixa nova é quando o marido a canta pela primeira vez. “É incomparável”, diz. A parceria do casal é muito mais saudável e harmoniosa do que a de Gilmour e Waters. Não o empurra para frente, para o estúdio, para novos discos, mas, ao se perceber a troca de olhares, é fácil entender que essa parceria o faz feliz. “Acho importante fazer parte de algo”, diz. “É ótimo trabalhar dessa forma.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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