Variedades

Emmanuel Nassar e Henrique Oliveira abrem exposições na Galeria Millan

Como brinca Emmanuel Nassar, ele não trouxe a roupa de domingo, mas o armário inteiro para a Galeria Millan, onde inaugura para o público neste sábado, 2, sua nova exposição em São Paulo. Assim como na mostra Este Norte, realizada em 2012 no Centro Hélio Oiticica, no Rio, o artista paraense junta em uma parede da principal sala da Millan uma seleção de seus trabalhos criados em diferentes linguagens e épocas – da década de 1990 até agora – para explicitar “uma unidade do conjunto da obra”. “A gente é um feixe de memória e vai acumulando, nunca jogando fora”, diz.

Na verdade, trata-se da exposição de um conceito, de um universo de criação, de marcar uma posição, ele afirma, e apesar de Emmanuel Nassar considerar que seu compromisso não é restrito à pintura, é ela que vai permeando todos os “rebanhos” – objetos, desenhos, fotografias, múltiplos, bandeiras – de sua produção artística.

Até quando o artista não pinta, ou seja, quando recolhe chapas metálicas usadas, riscadas, desenhadas e pintadas – uma delas, anuncia a tabela de preços de um ferro velho; outra traz um pequeno triângulo amarelo que é como o detalhe de uma peça de arte concreta brasileira – é o pensamento de pintura que está por detrás das composições.

Sendo assim, é curioso identificar esse ponto da obra de Emmanuel Nassar poeticamente sintetizado em um de seus trabalhos mais recentes. No “gabinete de curiosidades” do artista, no qual as obras ganham ritmo pela disposição na parede, destaca-se uma tela invertida que tem suas áreas cobertas de vermelho e bases de madeira para duas lamparinas compradas na feira de Belém. Desses candeeiros populares, que foram acesos durante a produção da obra, saem os rastros de fuligem. “O que fica por trás da tela é o que fica no escuro, então, tem que ter uma lamparina, iluminando o avesso dela, valorizando o que normalmente é o fundo, oculto, escuro, desprezado”, explica.

Essa bela questão é, portanto, uma das principais razões da produção de Emmanuel Nassar. “Com muitas doses de ironia”, frisa, o artista une o que é considerado refinado ao que é sucata; retira “a carga demagógica” que está incutida no conceito de cultura popular no Brasil. Mais ainda, esse criador fala sobre “ligação” – principalmente, entre individual e coletivo.

Anexo

Já Henrique Oliveira exibe seus mais recentes trabalhos no Anexo Millan, localizado a poucos metros da galeria. Pela própria estrutura do espaço aberto no ano passado, é como se a mostra do artista estivesse dividida em dois momentos. A primeira sala, ele explica, está mais diretamente relacionada à sua produção pictórica e a segunda, aos desdobramentos escultóricos de sua pesquisa ligada a formas orgânicas e da natureza.

Na área da pintura, uma grande composição presa à parede (o que promove uma relação de frontalidade) e realizada com compensados de madeira pintados, refere-se ao material que é uma marca das instalações de Henrique Oliveira, mas o artista também exibe diminutas peças inéditas que são telas de onde a tinta a óleo parece, por acúmulo, formar um corpo que extrapola o limite do quadro.
Trata-se, na verdade, de uma operação ilusória, pois a base dessas novas obras é feita de papel machê. “São trabalhos que articulam a estrutura do volume com a cor, com a matéria da tinta”, diz. Já na outra sala, embora as peças sejam escultóricas, elas também trazem “o aspecto ilusionista da pintura”. Dessa maneira, em duas de suas criações, por exemplo, Oliveira reconstrói galhos de árvores, fundindo-os ou criando um nó em um deles, o que os torna “absurdos”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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