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Marcello Mastroianni, o ator que todo cineasta cobiçava

Marcello Vincenzo Domenico Mastroianni, que se tornou conhecido como Marcello Mastroianni – um dos maiores astros de cinema da Itália e do mundo -, morreu há exatos 20 anos, em 19 de dezembro de 1996.

E Mastroianni foi, a um tempo, o galã e o intelectual, mas ele se lixava para a imagem do homem sedutor. Fez um impotente em O Belo Antônio, de Mauro Bolognini, um homossexual para Ettore Scola em Um Dia Especial para o mesmo Scola foi o Casanova decadente de La Nuit des Varennes, lançado no Brasil como Casanova e a Revolução.

Marcello nasceu em Fontana Liri, pequena cidade da Ciociaria. Lembram do nome? O filme que deu o Oscar para Sophia Loren, Duas Mulheres – de De Sica -, chama-se no original La Ciociaria e conta a história da mulher dessa região que foge com a filha dos nazistas, durante a 2ª Grande Guerra, e ambas são atacadas, e a garota estuprada por soldados durante a fuga.

Sophia veio de um meio miserável. Marcello, de uma família abastada. O tio, Umberto, era famoso escultor. Aos 21 anos, já estava em Roma, no mundo do cinema, trabalhando como figurante. Nos anos 1950, chegou a fazer papéis de destaque, em filmes como Pais e Filhos e Os Ilustres Desconhecidos, de Mario Monicelli, ou Noites Brancas, seu primeiro encontro com Luchino Visconti, mas, apesar dos muitos filmes, era principalmente um ator de teatro. A situação mudou quando Fellini fez dele o jornalista Marcello Rubini de A Doce Vida, filme-farol que ganhou a Palma de Ouro.

Rubini era um personagem autobiográfico. Marcello tornou-se o alter-ego do grande autor italiano, que fez dele, na sequência, o cineasta em crise (Guido Anselmi) de Oito e Meio. Fizeram mais filmes juntos – A Cidade das Mulheres, Ginger e Fred e Fellini Entrevista. Com Fellini, Mastroianni ganhou não só projeção como reconhecimento. Todos passaram a querer Marcello até os norte-americanos. Foram muitos grandes filmes, de grandes diretores. Impossível enumerá-los todos. Alguns – Dois Destinos, de Valerio Zurlini; A Noite, de Michelangelo Antonioni; O Assassino, de Elio Petri; Divórcio à Italiana, de Pietro Germi; Os Companheiros, de Mario Monicelli; O Estrangeiro, de Luchino Visconti; Príncipe sem Palácio, de John Boorman; Allonsanfan, de Paolo e Vittorio Taviani; A Comilança, de Marco Ferreri; Esposamante, de Marco Vicario; Enrique IV, de Marco Bellocchio; O Apicultor, de Theo Angelopoulos; e Viagem ao Princípio do Mundo, de Manoel de Oliveira.

No Brasil, filmou com Bruno Barreto e Sonia Braga, e foi o Nacib de Gabrielas, baseado em Jorge Amado. E ainda vale lembrar os outros filmes com De Sica, como Ontem, Hoje e Amanhã e Os Girassóis da Rússia. Embora, como já se disse, não ligasse a mínima para a imagem de galã, Marcello Mastroianni contracenou com as mais belas mulheres – Sophia, claro, Brigitte, e também Ursula Andress, Anita Ekberg, todas mitos sexuais. Sua biografia oficial registra um só casamento, com Flora Clarabella, que durou de 1950 até a morte, mas é que nunca se divorciaram. A ligação mais famosa foi com Catherine Deneuve, com quem teve a filha Chiara.

Mastroianni foi bom de comédia, de drama. Tinha carisma. E sabia expressar a impalpável angústia do homem contemporâneo. Há quem discuta se ele foi um bom Mersault, ao expressar o mal-estar existencial do personagem de Albert Camus para Visconti (em O Estrangeiro). Mas a cena final, de Jeanne Moreau e dele, em A Noite, a leitura daquela carta, é um grande, inesquecível momento de cinema. Feito de silêncios, subentendidos, que só a arte de grandes atores expressa.

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