Ele tinha 19 anos de idade; eles, os Rolling Stones, 45 anos só de carreira. Ensaiavam Love in Vain, música de Robert Johnson e registrada pela banda no disco Let it Bleed, de 1969, quando o guitarrista Keith Richards errou a mudança de acordes, encerrando prematuramente a canção. “Pô, Keith, não erra na frente do garoto”, disse Ronnie Wood, também guitarrista, ao companheiro. O “boy” era Paolo Nutini, jovem escocês de nome italiano, revelação do soul britânico com o primeiro disco, These Streets, de 2006, lançado um ano antes da apresentação para a qual ensaiavam, no festival Isle of Wight.
Nutini decolou – e o fez rapidamente. Surgido com a força do hit Last Request, uma balada chorosa ideal para dias chuvosos, o jovem é contemporâneo de Adele (fã assumida dele) e Amy Winehouse, duas cantoras responsáveis por chacoalhar a música no início dos anos 2000 ao servirem suas canções de desamor com um molho de redução de soul e R&B norte-americanos.
Nutini contou a história com os Stones na época do lançamento do disco mais recente dele, Caustic Love, lançado há três anos, marcado por uma transformação em sua música, mais experimental. É com ele que o escocês vem ao Brasil pela primeira vez para apresentação única, neste sábado, 29, na Áudio Club, em São Paulo – a brasileira Luiza Lian é responsável pelo show de abertura.
Em entrevista, por telefone, o músico cita Gilberto Gil como uma influência na fusão de gêneros. Descobriu Gil por acaso, conta, aos 17 anos. “Foi quando passei a explorar os prazeres da maconha”, explicou ele, rindo. Sob o efeito da droga, entrou em uma loja de discos e ouviu a voz do baiano nas caixas de som. Mesmo sem entender uma palavra de português, deixou o estabelecimento com Expresso 2222 e Refazenda, discos de 1972 e 1975, respectivamente, debaixo do braço. “Foi algo que me impactou. Passei a ouvir álbuns de Sérgio Mendes”, conta. “De coisas mais recentes, ouvi Cansei de Ser Sexy (de punk-dance de sucesso no exterior em 2008).”
Nutini não tem feito muitos shows nos últimos anos. Precisava de um tempo, ele diz, para trabalhar em um quarto disco. Mudou-se para Bristol, na Inglaterra, e mora perto de um estúdio de gravação. “É uma vida tranquila. Estou bem feliz aqui”, diz ele, que cresceu em Paisley, na Escócia, e viveu os anos recentes em Londres. “Queria saber como seria ter uma nova banda, uma nova vida”, ele conta.
Nutini tem um espírito errante. Seus discos nunca soam iguais – e sua voz, aguda, está mais arranhada do que nunca. Em Caustic Love, ele deixa para trás a pecha de herdeiro do blue-eyed soul, o tipo de soul cantado por homens de pele branca, olhos claros. Canta um amor tão em ruínas quanto sua voz rouca. A visita à América do Sul estava na lista de desejos do escocês também. “Quero conhecer mais São Paulo”, ele diz, antes de revelar um desejo curioso: “Tenho vontade de visitar também a Bolívia, por alguma razão. Deixar o cabelo crescer e nunca mais voltar”. Ele ri, mas é difícil saber se ele falava sério ou não.
PAOLO NUTINI
Audio Club. Avenida Francisco Matarazzo, 694, tel.: 3862-8279. Sáb. (29), às 23h. R$ 90 a R$ 280. Abertura: Luiza Lian, às 21h30.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.