Existe, sim, moda autoral no Brasil. Além de causas nobres e discursos pertinentes – que contemplaram diversidade, engajamento, inclusão e trabalho coletivo -, o que se viu de tangível na 44ª edição da São Paulo Fashion Week, que chegou ao fim nesta quinta-feira, 31, foram coleções verdadeiramente originais. Com uma sequência de 32 desfiles, a semana de moda brasileira expôs uma produção conectada com o que as pessoas querem vestir – e, mais importante, dizer. E comprovou o que há tempos vem se dizendo no mundo da moda: certo e errado definitivamente não têm mais vez. “Moda é oferta, e estilo é escolha.
Hoje, a moda tem oferta para todo o mundo, para que o consumidor possa escolher aquilo que o represente”, sintetiza bem a consultora Glória Kalil.
Isso não quer dizer, no entanto, que não haja percalços no caminho. Pouco antes de seu desfile ontem, Juliana Jabour falou abertamente sobre alguns desses desafios. “Andei pulando algumas temporadas, porque um desfile custa caro, e eu dependo de patrocínio”, contou a estilista, que há três anos vem fazendo apresentações de sua marca homônima na SPFW graças ao apoio da grife Lez a Lez, da qual é diretora criativa.
“Algumas vezes, precisamos abrir mão de coisas por motivos comerciais. É triste, mas é assim mesmo. Tem que vender. Você se perde um pouco. Mas agora me reencontrei”, disse Juliana, que apresentou uma coleção pop e solar, unindo a estética náutica a modelagens volumosas e cheias de babados. Tudo com uma pegada bem urbana, característica forte de seu trabalho ao longo dos últimos 20 anos.
Helo Rocha também fez um desfile com códigos pelos quais é reconhecida. Bordados, babados e uma leveza romântica em tons pastel tomaram conta de sua passarela, inspirada em lingeries vitorianas. “É uma atmosfera de sonho tropical, com bordados inspirados na flora tropical. Fizemos um raio X das plantas em cima da modelagem para um desenho abstrato”, diz ela, que considera o bordado a parte mais importante da coleção.
É comum para editores de moda apontarem o dedo para as falhas e cópias que as marcas nacionais fazem das tendências internacionais. Faz parte do ofício. Mas é preciso, também, reconhecer talentos. É o caso de Luiz Cláudio Silva, estilista da Apartamento 03. Seu desfile, inspirado na arquiteta Lota de Macedo Soares, responsável pelo projeto do Parque do Flamengo, trouxe uma alfaiataria bem estruturada, remetendo às formas retas da arquitetura modernista carioca, e conjuntos brancos de laise com um trabalho rigoroso de bordado.
“Hoje, as tendências se desgastam rapidamente. Parece tudo igual. O que faço é criar para diferentes corpos e idades. É por isso que visto quase todas as mulheres – Karol Conká, Maria Rita, Renata Sorrah…, crio pensando nas pessoas. É nisso que foco, e não no que está vendendo”, contou o estilista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.