Variedades

Enredo da Portela é inspirado em livro sobre a saga dos judeus no Recife

O livro “Caminhos Cruzados” escrito pelo jornalista Paulo Carneiro, que foi editor do extinto jornal Diário de Guarulhos, foi usado como inspiração para compor o enredo da escola de samba Portela, do Rio de Janeiro. O público vai conferir na avenida a saga dos judeus do Recife que fundaram Nova York.
 
O enredo conta a história dos imigrantes que vieram ao Brasil com os holandeses em 1630, mas que foram expulsos 24 anos depois, quando os portugueses reconquistaram Pernambuco. Na fuga, em setembro de 1654, um grupo de refugiados desembarcou na modesta colônia holandesa de Nova Amsterdã, que hoje é a cidade de Nova York.
 
Caminhos Cruzados foi lançado em 2015. Paulo Carneiro é jornalista e iniciou sua carreira na TV Tupi. Foi editor do Diário do Grande ABC e do jornal Diário de Guarulhos. A Portela, vencedora do Carnaval 2017, desfila na Sapucaí na segunda-feira (12), às 22h20, segundo dia de apresentações do grupo especial do Rio de Janeiro.
 
Confira a letra do samba enredo:
 
“De Repente de Lá Pra Cá e Dirrepente de Cá Pra Lá…”
Autora: Rosa Magalhães
 
Minha gente, se prepare
Que essa história vale a pena,
Tome assento, se acomode,
E vejam quem entra em cena
E quem sai, e onde se passa,
Onde termina, ou começa,
De onde vem ou se destina.
 
E por mais que cause espanto
os fatos que ora apresento
quem achar que isto é mentira
que vá ao Google e confira,
verifique e leia atento,
pois se ficou no passado
não foi menos registrado.
 
E assim já lhes adianto
que tem a ver com exílio,
mudança de domicílio,
com fuga e, logo e portanto,
com saudade do lar distante,
vida incerta de imigrante
mas esperança no horizonte.
 
Pra Pernambuco formosa
rica de açúcar e gente doce,
holandeses cobiçosos
chegaram como se fosse
sua própria casa ocupar,
abrindo porta e porteira
pra quem quisesse trabalhar.
 
De Portugal, perseguidos,
judeus lá foram aportar
fugindo da Inquisição,
que lhes proibia praticar,
no país sua religião.
Deixaram tudo pra trás
pra poder viver em paz.
 
Anos e anos depois,
Portugal reconquistou
a linda terra nordestina,
e sem dó logo expulsou
os judeus de triste sina,
que se dividiram em três
e de lá partiram de vez.
 
Uns seguiram pra Holanda,
sonhando com o amanhã;
outros foram pro Caribe,
mais perto, tentar a sorte;
outros pra Nova Amsterdã,
lá na América do Norte
e quase encontraram a morte.
 
Esses últimos, coitados,
pelo meio do caminho
foram cruelmente atacados
‘cê nem imagina por quem:
um navio de piratas
do Caribe cobrando prata
e ouro pra tudo acabar bem.
 
Muitos anos se passaram.
Os ingleses conquistaram
aquela terra, e o povoado
de judeus e brasileiros
ganhou nome venerando
famoso no mundo inteiro:
Noviórque, é isso mesmo
Que você ‘tava pensando.
 
E quando, muito mais tarde
a França deu de presente
a Estátua da Liberdade,
em seu pedestal foi gravado
um poema da descendente
de um daqueles imigrantes
vindos do Brasil no passado.
 
No poema, tão bonito,
é como se a Estátua falasse
com os exilados aflitos,
sofridos, refugiados,
e a sua chama os guiasse
com generosa bondade
para o belo portão dourado
da Paz e da Liberdade.
 

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