Cidades

Lixo depende de vontade política

É comum ouvir gente disposta a dar uma destinação melhor e mais apropriada à sujeira que produz. Ocorre que essas pessoas não encontram meios para levar esse desejo adiante.

Seja por falta de iniciativa de outros moradores no local onde vivem, mas principalmente pela ausência dos entes públicos em oferecer condições para debater a questão. Ações como a coleta seletiva e a reciclagem do lixo são simples, mas dependem do envolvimento da comunidade. Sem esse apoio, cidades importantes vão continuar a assistir ao movimento recorrente de empresas interessadas em criar aterros sanitários lucrativos sem a mínima preocupação em oferecer alternativas menos agressivas ao meio e promover educação ambiental.


O lixo está na ordem do dia. Trata-se de assunto espinhoso, que requer uma série de avaliações. Por exemplo: a partir do momento em que se pretende fazer a reciclagem dos resíduos, não se pode ignorar quem vai receber o material. Gente interessada é o que não falta, desde capitalistas interessados no lucro até às cooperativas formadas por catadores de papel e alumínio, um importante instrumento para tirá-los das ruas e elevar sua renda. Já a compostagem é tão importante quanto a reciclagem, pois impede que o lixo orgânico, proveniente também das sobras dos alimentos que consumimos, seja disponibilizado impunemente em aterros e fique apodrecendo à luz do dia, gerando líquidos (chorume) e gases altamente nocivos ao solo, às águas e ao ar.


A simples adoção dessas medidas teria impacto imediato nos aterros sanitários que servem os grandes centros. As latas de alumínio e as garrafas de plástico pet não se desintegram no ar de uma hora para a outra. Sem falar nos sacos plásticos dos supermercados. Essas substâncias levam centenas de anos para desaparecer completamente. Isso nos leva a crer que não existe outra solução não seja a construção imediata de centros de reciclagem para receber o material. Mas que é lógico aos nossos olhos nem sempre tem efeito diante das políticas públicas.


Em pleno século XXI, e com diversas tecnologias à disposição, os burocratas ainda preferem enterrar o lixo no solo, apoiados no argumento de que hoje em dia é possível cuidar da sujeira de maneira responsável e sem danos ao Meio Ambiente. Para esse tipo de gente, é mais fácil desocupar áreas ocupadas por famílias geralmente carentes, ao invés de promover a educação ambiental com as crianças na rede de ensino. Imagine o impacto que a reciclagem teria em uma cidade como São Paulo, que produz cerca de 450 mil toneladas de lixo por mês.


O reflexo de ações como essa também se refletiria imediatamente nos aterros sanitários espalhados pelo país, inclusive com o prolongamento da vida útil dessas localidades. Mas, infelizmente, falta vontade política para que a questão do lixo urbano entre definitivamente na pauta dos governantes.


Há pouco tempo, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que todo o lixo produzido em suas repartições seja reciclado. Um projeto nos mesmos moldes será analisado nesse mês pela Assembléia Legislativa de São Paulo. A iniciativa também poderia se estender a outros órgãos públicos como Câmaras Municipais, Prefeituras, e demais repartições públicas, escolas.


Tenho certeza que isso para amenizaria não somente o tamanho da sujeira enviada aos depósitos de lixo, muitos a céu aberto, como também teria reflexo no comportamento das pessoas, sobretudo daquelas que ainda hoje insistem em jogar o lixo da janela dos carros em avenidas e ruas. O problema do lixo não pode ser tratado de forma isolada. E não pode mais esperar.


Sebastião Almeida é deputado estadual pelo PT, coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Água e presidente da comissão de Serviços e Obras Públicas da Assembléia Legislativa de São Paulo. E-mail: [email protected]


 


 

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