Cidades

Clima mundial exige medidas urgentes

Ainda há gente que não se convenceu dos transtornos que o aquecimento global pode trazer ao planeta. Aos mais egoístas, resta a justificativa de que não estarão mais por aqui quando a situação apertar.


 Já os céticos alegam que tudo não passa de “terrorismo” de cientistas e ambientalistas. Para os incrédulos de plantão, as mudanças climáticas fazem parte de um ciclo pelo qual a Terra passa periodicamente – em alguns anos, tudo voltará ao normal. Mas os sinais dessa destruição estão por todas as partes. Vão desde o derretimento do gelo nos pólos até a desertificação de áreas imensas em território africano. Estudos indicam que no futuro haverá centenas de milhões de refugiados espalhados pelo mundo por causa de secas inimagináveis e áreas alagadas pela elevação do nível do mar.



Nós brasileiros não podemos fechar os olhos para o problema. Só para se ter uma idéia, o inverno em São Paulo pode superar a média histórica de temperatura em até 2º C. Segundo os meteorologistas, a cidade deve ter frio intenso somente por uma semana, repetindo o que vem acontecendo na cidade nos últimos anos. Em 2006, tornou-se comum andar nas ruas debaixo de sol, com os termômetros marcando 30ºC durante o dia e até 20ºC em plena madrugada. Há 15 anos, um paulistano poderia até imaginar que o ar não seria dos melhores na primeira década do século XXI. Mas soltaria boas gargalhadas se falassem de calor forte nos meses de julho e agosto.


No Hemisfério Norte, a situação não é diferente. O inverno de 2006-2007 foi o mais alto desde 1880, quando pesquisadores começaram fazer esse tipo de medição, com 0,72ºC a mais do que a média registrada ao longo do século 20. De 1995 para cá, esses institutos registraram as 10 maiores temperaturas da história, o que vem provocando o derretimento de geleiras, provocando rachaduras nas casas de quem vive em áreas de solo congelado, o chamado permafrost. Mais grave ainda é a situação das populações das áreas costeiras, ameaçadas pela elevação do nível do mar.


O problema só tende a piorar, segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que prevê aumento da temperatura de até 6ºC no mundo se nada for feito para conter o aquecimento desenfreado do planeta. O documento produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU) também indica que até 2050 metade das áreas agrícolas da América Latina vai sofrer com a desertificação e a salinização, com prejuízos econômicos da ordem de US$ 300 bilhões por ano. Diante desse cenário, a expectativa é que muitas famílias se desloquem para os grandes centros, com complicações na área de infra-estrutura, empregos e até no setor de saúde pública.


No Brasil, a maior preocupação continua sendo com a Amazônia. Mas também teremos que descobrir soluções para conter o avanço do mar sobre os mais de 8,5 mil quilômetros de nossa costa, onde se encontram cidades do porte do Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Florianópolis, Vitória, entre outras capitais. Em meio a esse turbilhão de catástrofes naturais anunciadas, nem tudo está perdido. Com vontade política e mudança de comportamento da população, podemos reverter esse quadro. Acredite nisso e faça sua parte, porque não se pode mais ficar esperando pelas promessas e discursos de autoridades. E nem esperar por um milagre, sentado no sofá de casa.


Sebastião Almeida é deputado estadual pelo PT, coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Água e presidente da comissão de Serviços e Obras Públicas da Assembléia Legislativa de São Paulo. E-mail: [email protected]

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