Grupos tentam reduzir impacto econômico da crise

Diante do impacto econômico da pandemia, especialistas explicam que as agendas sociais ganharam mais visibilidade e os grupos organizados começam a ocupar vazios deixados pelo Estado na resposta à crise. "Esses movimentos têm capacidade de realizar ações emergenciais. A situação requer uma resposta imediata e eles realizam campanhas de arrecadação de alimentos, por exemplo, mostrando que ter um Estado forte não substitui a necessidade da existência dos movimentos sociais", afirma a professora de relações internacionais da ESPM Carolina Pavese.

Presentes em ruas e praças da Itália desde o final de 2019, para protestar contra o neofascismo, o movimento das sardinhas foi responsável por derrotas políticas da extrema direita italiana representada pela Liga, partido de Matteo Salvini. Agora, suas atividades ficaram muito restritas, mas o grupo afirma que não deixou de trabalhar.

"Não desaparecemos, estamos nos preparando para o pós-coronavírus", disse Andrea Garreffa, um dos organizadores do movimento. Ele explica que o grupo se organiza internamente, mas não está parado. "Estamos dando suporte a voluntários, ao pessoal da Proteção Civil e aos médicos por tudo que têm feito até agora no combate a essa doença. Se isso significa desaparecer dos meios políticos e de comunicação, não importa."

No Chile, a revolta social que eclodiu em 2019 não diminuiu com a pandemia, pelo contrário. Com a quarentena total, o país vive uma escassez de alimentos – que até desencadeou protestos de rua em distritos mais pobres de Santiago.

Movimentos feministas que, em 2019, estavam nas ruas por seus interesses, agora atuam em outras frentes. "Estamos focadas em ajudar, porque a fome está aumentando", disse Marcela Betancourt, do grupo La Tesis Sênior, que reúne mulheres com mais de 40 anos que lutam contra a violência de gênero.

Segundo a chilena de 48 anos, que teve a mãe, a irmã e o sobrinho infectados pela covid-19, a coordenação da ajuda ocorre em assembleias populares e por meio de grupos de bairro. "O governo se dedicou a ajudar empresários ao permitir que funcionários fossem demitidos ou tivessem seus salários reduzidos e hoje as pessoas passam fome", afirma.

Como resposta às denúncias, o governo do presidente chileno, Sebastián Piñera, anunciou na sexta-feira o plano "Alimentos para o Chile". O programa ocorrerá em três comunas: Quinta Normal, Estación Central e Santiago. A ideia é entregar 2,5 milhões de cestas básicas e produtos de higiene para as famílias. Em comunicado, o governo informa ainda que, durante o fim de semana, a entrega será ampliada para 32 comunas de Santiago e depois ao restante do país.

"Os movimentos sociais fizeram duas coisas que não são muito visíveis: se organizaram internamente e organizaram ações de mutualismo, não para fazer caridade, mas para denunciar violações de direitos como o alimentar, por exemplo, que deveria ser fornecido pelo Estado", afirma a professora de ciência política e sociologia da Scuola Normale Superiore, em Pisa, Donatella Della Porta.

Os movimentos feministas argentinos também atuam nessa frente desde o início da pandemia. "Colocamos cartazes nos centros de atenção e restaurantes populares com um espaço para que os estabelecimentos deixem seus dados e as pessoas possam ir até eles buscar comida, por exemplo", conta Elsa Schvartzman, da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito.

"As escolas estão fechadas e isso é um problema para a alimentação das crianças. Com isso, muitas professoras que fazem parte da campanha trabalham em turnos para que as escolas sejam um local de distribuição de alimento."

Carolina Pavese explica que os movimentos sociais estão diante de um "gatilho" – "acontecimento inesperado que conduz a uma ruptura do status quo e leva a uma transição". "Esses momentos servem como plataforma para dar visibilidade a agendas e movimentos sociais. A saúde pública e as condições de trabalho viraram uma pauta obrigatória na política", afirma. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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