O filósofo, crítico de arte e escritor Benedito Nunes obteve reconhecimento por seus méritos intelectuais no Exterior e nas mais importantes cidades do Brasil. Chegou a lecionar na França e nos Estados. E recebeu os melhores prêmios da área cultural no Rio de Janeiro e em São Paulo. Por exemplo, da Câmara Brasileira do Livro recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura; do jornal O Estado de São Paulo, o Prêmio Multicultural Estadão, e, da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra.
Alguns anos antes de morrer aos 81 anos de idade, Nunes proferiu a aula inaugural do ano letivo da universidade federal de seu Estado natal, o Pará. Nela, ele disse para os seus jovens conterrâneos, iniciantes na vida acadêmica, que, atualmente, nenhuma ciência se constitui mais num universo isolado de conhecimentos, pois, profundas mudanças aconteceram tantos nas Ciências Exatas, como nas Humanas, levando a reformulações críticas de conceitos e de métodos. Nunes lembrou que hoje físicos se interessam por Biologia, antropólogos por Linguística e Psicanálise. E que estes interesses variados submeteram as ciências a confrontos críticos. Ele acrescentou: e da crítica até a crise não há senão um passo. Por isto, na atualidade, as ciências padecem de uma crise de fundamentos que se prolonga na crise de métodos. Tudo passa a ser revisto, num movimento geral de reconceitualização, afirmou ainda o estudioso. Ele prosseguiu: a crise geral corresponde a um estado crítico e saudável intelectualmente, mas, gera incômodo e desconforto mentais, pois a perda dos velhos paradigmas das ciências não foi compensada pelo surgimento de novos paradigmas.
Assim, estamos numa “época da suspeita” duplamente caracterizada, sustentou Nunes. Uma de suas características é o fim dos conhecimentos totalizadores, abrangentes, não só como os do Positivismo e do Evolucionismo, mas também como os, mais recentes, do Marxismo e do Estruturalismo.
Outra característica dela é o fim do consenso entre sábios, no qual repousava a verdade científica. Acabou-se a crença de que a comunidade científica sabe como o mundo é. Era esta crença que pacificava a ciência e eximia-a de revoluções conceituais internas. Contudo, nesta crise das ciências Nunes viu uma compensação. A a “época da suspeita”, ele concluiu, trouxe a interdisciplinaridade.