Há hoje no Brasil um conjunto de circunstâncias que desperta angústia em quem tem idade suficiente para ter vivido os horrores da Ditadura Militar implantada no país após a deposição do presidente João Goulart em 1964. Uma angústia calada por causa de uma superstição, a de que se falarmos no diabo, ele aparece.
Mas, é inegável: o país, hoje, como em 1964, parece desgovernado devido ao descrédito em suas instituições políticas. E, sabemos, foio medo do desgoverno que levou a classe média daquela épocaa apoiar a intervenção dos militares. A justificativa: era necessário garantir ordem social, sem discutir sua legitimidade,para que a produção econômica do país, garantia de progresso,não fosse paralisada. Um retorno, portanto, à crença positivista em relação ao capitalismo já estampada na nossa bandeira: “Ordem e Progresso”.
Como em 1964, a atual crise política se agrava e fica próxima de um impasse com a ação, aparentementeinconsequente, de alguns de seus agentes sociais. Os de 1964, como mais tarde descobriu-se, na verdade, apostavam conscientemente no “quanto pior, melhor” porque buscavam o fim da interrupção do processo democrático.
Na conjuntura atual nada parece mais com aqueles antigos agentes sociais do que os chamados “vândalos”. A quem servem, quando destroem o patrimônio alheio e o patrimônio público? É a primeira pergunta que se deve fazer sobre eles. Pois de sua resposta decorre a possibilidade de compreendermos o que revelam com sua agressividade. Somente primarismo político, supostamente a serviço da luta por maisJustiça Social? Ou, ao contrário, revelam submissão aos tresloucados que sonham com a implantação de uma nova ditadura no país?
Causa estranheza a omissão das polícias estaduais que concedem tempo e espaço à ação destruidora destes agentes sociais quando desvirtuama legitimidade das manifestações de rua. Polícias que, depois dos danos provocados por eles, também mostram desinteresse em pelo menos identificá-losdiante da nossa opinião pública.
O mais inquietante: deste desinteresse, parece compartilhar nossa grande imprensa, tão competente na identificação de fraudes que desmoralizam ainda mais muitosjá merecidamente desacreditados políticos profissionais.
Quem não lembra? A conjuntura do Golpe Militar de 1964 foi composta pela fraqueza das instituições políticas refletida num mau gerenciamento da economia do país e numa certa desordem social. Tudo agravado pela ação de agentes interessados na implantação de um “governo forte”,insensível às demandas sociais imediatas, mas tranquilizador da classe média assustada e dos grandes empresários e banqueiros interessados em manter seus privilégios.
Uma coisa é certa: só falando no diabo, poderemos espantá-lo.