Mundo das Palavras

Garrincha, o gênio da Arte Perfomática

A Arte Performática nem estava ainda claramente compreendida, entre os anos de 1958 a 1962, quando Garrinchabrilhou nela. Por isto, até hoje, sua genialidade continua mal compreendida,dentro da História da Cultura Brasileira, encerrada, de modo artificial, nos limites rígidos de uma prática esportiva, o futebol. Na verdade, pouco tinha do formalismo rígido do esporte a fúria criativa dele, jamais e nunca mais vista nos estádios. Garrinchadesmontava esquemas táticos de jogos, desarrumando a distribuição dos jogadores nos gramados, com dribles que derrubavam adversários, deixando-os ridiculamente de pernas para o ar. Promovia um espetáculo-solo que espalhava alegria desde os torcedores de seu time oficial, o Botafogo, até as torcidas inimigas. Unindo-as em explosões de risos como se ambas estivessem num teatro a céu aberto. 
 
Quando já desfrutava da glória de campeão do mundo, obtida na Suécia em 1958, Garrincha viveu uma “situação-limite”, na qual,segundo o filósofo existencialista Jean Paul Sartre, o ser humano é obrigado a se revelar inteiramente.O Botafogo, durante uma excursão internacional,enfrentouum empate, na Costa Rica, contra o Saprisa, campeão local, até quase o final da partida.  Tornara-se dramática a necessidade de gol. Quando Garrincha driblou “Deus e o mundo” e ficou cara a cara com o goleiro do Saprisa- registrou Roberto Freire, na Revista Realidade, em maio de 1968. Naquela situação, qualquer jogador de futebollogo tentaria enfiar a bola na rededo adversário. Garrincha, no entanto, “ameaçou chutar e não chutou – descreveu Roberto Freire. “Deu uma voltinha com a bola, driblou mais um adversário.E, de novo, cara a cara com o goleiro, tornou a ameaçar o chute e, outra vez, desistiu”.OSaprisa inteiro entãovoou em cima dele. Novos dribles de Garrincha, e ele, novamente,ficousozinho à frente do goleiro.Fez outra ameaça, e,por fim, chutou a bola, um segundo antes do fim do jogo,por entre as pernas do goleiro, marcando o gol. 
 
Partida encerrada, o treinador do Botafogo,Paulo Amaral, avançou furioso sobre Garrincha: “Por que não chutou logo, ‘Seo’ irresponsável?”. Garrincha, tranquilo como um escultor, após lapidar sua obra-prima, explicou: “O goleiro não queria abrir as pernas, ‘Seo’ Paulo”.
 

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