Mundo das Palavras

O jovem irado

O inflamado ambiente político existente, hoje no Brasil, tem exposto à opinião pública a figura do jovem manifestante de rua cheio de ódio. Que se torna alvo de deboches nas redes sociais da internet pelo modo confuso, desarticulado, contraditório, com o qual expressa suas opiniões. Quase sempre repetindo clichês e frases feitas. Estamos, assim, num momento em queo valor da Expressão Verbal se mostra de modo dramático. No entanto,deficiências como as do texto oral daquele jovemtodos os dias aparecem diante de quem ensina Redação – e outras disciplinas ligadas ao uso das palavras. São generalizadas e previsíveis. Entre as quais, raciocínio ilógico, uso inadequado de palavras decorrente de vocabulário pobre, deslizes gramaticais, conteúdo banal etc.
 
Quando o professor desta matéria quer ir à raiz daquelas insuficiências,sente-se tentado aextrapolar os limites de sua atuação para dizer a cada um de seus alunos: “suas dificuldades não estão naquilo que você escreve. Estão na sua vida. Se desejarse exprimir com mais precisão, clareza, originalidade e beleza você terá de identificar dentro de sua existência o que, nela, o leva a escrever sem nenhuma destas qualidades”. Pois, uma constatação corriqueira na área de Expressão Verbal é a de que uma pessoa não cria um texto. Ela é o seu texto. Já que, quando alguém fala ou escreve, aquilo que diz revela inúmeros aspectos íntimos seus. E não só um conjunto de significados literais, dicionarizados, das expressões empregadas. 
 
Nos textos orais ou escritos revelam-se grau de sensibilidade, nível de inteligência, profundidade no entendimento da existência humana adquirido por vivências do passado. E, ainda, os estímulos ou os desestímulos intelectuais provocados por determinada maneira de viver. Os quais se refletem- inclusive, mas não só – na posse ou na privação de um bom vocabulário. 
 
Acima de tudo, o uso de palavras mostra capacidades ou incapacidades de reflexão -inclusive sobre si mesmo – refletidas, para os outros, no discurso oral ou escrito. Porque, se tais deficiências têm várias causas, todas enraizadas no cotidiano, certamente, uma das mais frequentes é a falta de hábito de reflexão. Como é sabido, alguns educadores sustentam: “Ensinar a escrever (e a falar) bem é ensinar a pensar”. Sem reflexão e outros cuidados,nossas verbalizações estarão condenadas à falta de lógica, à obscuridade, à incomunicabilidade, enfim. O que produzódio. Semelhante ao dojovem manifestante de rua.   
 

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