A artista Ilma Gore foi forçada pelo Facebook, nos Estados Unidos, a excluir a postagem do quadro, pintado por ela, com a figura de Donald Trump nu, como noticiou o The Guardian. E isto ocorreu quase simultaneamente a um episódio de violência que atingiu a pintora, como também noticiou, na mesma ocasião, o jornal. Ilma foi agredida na rua com soco em seu rosto dado por um eleitor do Partido Republicano. A censura foi motivada simplesmente pelo nu. O soco, pelo diminuto tamanho do membro sexual de Trump no quadro.
O tamanho do pênis e a importância que muitos homens lhe atribuem foram temas abordados, há dez anos, numa longa reportagem pelo escritor e roteirista Antônio Prata, em atendimento à solicitação da Revista Piauí.
Para se desincumbir daquela tarefa, Prata, inicialmente, digitou no Google exatamente estas palavras: “tamanho do pênis”. Ele encontrou 187 mil resultados. Logo, dois detalhes lhe chamaram a atenção.
O primeiro detalhe: a disparidade no número de resultados na comparação entre este assunto e dois temas também considerados relevantes: “Paz na Terra” e “Como ficar rico”. Para estes assuntos, apareceram, respectivamente, 87.000 e 18.800 resultados.
O segundo detalhe: a inacreditável lista de “tratamentos” oferecidos como meios para aumentar a extensão do órgão sexual. Bomba a vácuo, extensores com elásticos e molas, pesos, cirurgias, implantes, injeções de gordura, metacrilato para bioplastia, gel russo, cosmo mel, pílulas, técnicas árabes de massagem. Todos carentes de estudos que comprovem alguma eficácia – garantiram, então, o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, Sidney Glina, e, a fundadora do Projeto Sexualidade-Prosex, do Hospital das Clínicas de São Paulo, Carmita Avdo.
Através destes dois especialistas surgiram, na pesquisa de Prata, a maior surpresa. E o desenlace desconcertante.
A surpresa: a maioria dos homens que procuram a clínica de Glina, o Prosex e outros médicos movidos pelo sonho de terem um pênis maior estão dentro da média. Isto é, tem falo com extensão entre 13 e 16 cm, ereto. E ainda que seus membros tivessem apenas 9 cm eles poderiam satisfazer plenamente as mulheres, disseram os dois especialistas.
O desconcerto final: estes homens insatisfeitos com que lhes deu a natureza estão consciente da inexistência de relação necessária, automática e proporcional entre o tamanho de seus membros e a intensidade das satisfações que eles podem oferecer às suas parceiras. Mesmo assim, ambicionam portar pênis grande movidos por outro motivo: a possibilidade de exibi-lo, imenso, nas surdas disputas de tamanho que surgem em vestiários e mictórios masculinos.
Estão, portanto, preocupados com outros homens. E não com as mulheres.
Agora, este tema reaparece onde menos se esperava: na disputa do cargo de presidente dos Estados Unidos.
Poucas horas antes de circular no Brasil a notícia sobre a censura à obra de Ilma Gore, o escritor Vicente Cecim havia postado o abaixo-assinado da campanha mundial encetada pela change.org – "Pressionando Facebook – Censura de facebook al ARTE" – que exige o fim da censura no Facebook às obras de arte.
Cecim escreveu: "Quem considera o corpo um crime promove os holocaustos". E inseriu o belíssimo nu feminino, usado como símbolo da campanha. Depois disto, o quadro de Ilma Gore, proibido nos Estados Unidos, foi postado no Facebook, no Brasil, com a expectativa de que a proibição se repetisse em nosso País, também. No entanto, até este momento o quadro dela continua na rede social. Provavelmente porque no Brasil, é claro, a obra fica fora do contexto criado pela acirrada disputa pela presidência dos Estados Unidos. E, por isto, perde sua força como expressão da posição política, naquele contexto, da artista-cidadã-eleitora norte-americana que o criou. A imagem dela foi inserida aqui, junto com este texto.
