Mundo das Palavras

O Brasil para jovens

Durante quase vinte anos, o Serviço de Censura, da Polícia Federal, perseguiu jornais críticos e independentes. Impediu que eles veiculassem muitas notícias e recebessem anúncios publicitários. Só veículos apoiadores da Ditadura Militar tinham acesso às verbas das agências. Assim, do que ocorria no mundo e no País os brasileiros obtinham apenas captação parcial. Também era difícil para eles pensar com profundidade sobre suas limitadas informações. Pois, a Censura vetava autores não alinhados com o governo, impossibilitando o confronto de visões. Por fim, as opiniões que poderiam externar, baseados em informações incompletas e pensamentos empobrecidos  igualmente sofriam restrições devido ao controle de reuniões públicas pela Censura. Com isto, todos os três momentos da produção de textos orais e escritos – os da percepção, da reflexão e da verbalização – sofriam interferências prejudiciais. 
 
Nos anos 80, o País se redemocratizou. A Grande Imprensa, colaboracionista – como a Rede Globo -, se expandira. Os brasileiros, porém, carregavam pesada herança, marcados pelo  truncamento de sua capacidade de expressão por meio das palavras. Revelada, por exemplo, nos erros grosseiros de linguagem que os jovens cometiam nas redações dos vestibulares, amplamente divulgados com o intuito de constrangê-los e humilhá-los. A tal “crise da linguagem”, revelaria a existência de uma nova geração idiotizada pelo Cinema, pela bebida, pelas drogas, diziam “especialistas”. Nenhum quis incluir o desempenho ruim dos jovens no uso das palavras entre os danos causados à Educação dos brasileiros pela Ditadura.  
 
Agora, algo muito mais grave afeta nossa juventude – alerta a Organização Mundial da Saúde.  O número de suicídio entre jovens cresceu cinco vezes, se a taxa atual for comparada à de uma década atrás. Mais uma vez, unicamente sobre os próprios jovens é jogada a responsabilidade pela tragédia que os atinge. Matam-se por terem vida vazia, mimados por suas famílias e viciados em celular, internet, bebida e drogas. Aos “especialistas” ouvidos pelos grandes jornais não ocorre que o status quo da sociedade brasileira seja conveniente apenas para uma pequena parcela de privilegiados. Mas, se mostre extremamente desanimador e angustiante para quem, como um jovem, seja naturalmente dotado de senso agudo de justiça. Parece que nada será mudado a fim de evitar que a realidade social do País cause muita infelicidade à juventude, se isto depender da vontade dos mandachuvas. A contestação política radical, então, não se torna uma alternativa sedutora àqueles que não querem afundar na depressão profunda?
 
(Na imagem da VICE, alunos desafiam policiais durante protesto contra desvio de verba de sua escola, em São Paulo)
 

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