O Brasil parece estar deixando de pensar só no curto prazo e planeja estratégias de crescimento e inserção mundial mais em longo prazo. Embora a instabilidade política atrapalhe, até novembro se esperam as diretrizes governamentais que orientarão para onde e em que ritmo a indústria automobilística instalada no País deve chegar. O programa Rota 2030 estabelece, pela primeira vez, um prazo de 13 anos, incluído o ano de 2018, para que metas de eficiência energética, segurança veicular e novas tecnologias agreguem valor ao veículo brasileiro. Isso sem escalada descontrolada de aumento de custos, que poderia elevar demais o preço final ao consumidor.
Conciliar curto, médio e longo prazos foi o principal escopo do workshop Planejamento Automotivo 2018, organizado em São Paulo pela Automotive Business. O humor dos compradores de veículos leves começa a melhorar, porém nem todos os palestrantes mostraram-se otimistas. Sindipeças, por exemplo, preferiu manter posição cautelosa até mesmo sobre a recuperação deste ano. Anfavea espera crescimento de 4% sobre 2016, mas pode revisar a projeção para cima, em breve.
A consultoria IHS Markit, representada pelo francês Carlos da Silva, projetou que não antes de 2024 o mercado brasileiro voltará aos mesmos 3,6 milhões de veículos leves (mais 200.000 de pesados) registrados em 2013. Apesar de o País este ano prever um novo recorde de exportação de produtos montados, Silva afirmou não acreditar em vendas externas crescentes além do patamar atual de 700.000 unidades. Uma conclusão algo incoerente pois ele mesmo imagina que a moeda continuará a se desvalorizar – em geral impulsiona exportações – até passar de R$ 4,00 por dólar em 2020.
Vitor Klizas, da Jato Dynamics, detectou uma série de mudanças no mercado brasileiro. A escolha de câmbio automático, por exemplo, subiu de 9% para 40% das vendas de automóveis novos em 11 anos. Ar-condicionado estava em 32% dos modelos e cresceu para 91% ao longo de 10 anos. Na opinião da coluna, parte desse avanço se deu por queda de poder aquisitivo que alijou uma grande leva de compradores da base da pirâmide social brasileira pelos equívocos de política econômica entre 2011 e 2015. Quem continuou no mercado manteve sua capacidade financeira e, naturalmente, pôde gastar mais em equipamentos.
Quanto ao comportamento futuro do comprador de automóveis no Brasil, o mexicano Alberto Torrijos, da Deloitte Consulting, o identificou como receptivo a tecnologias de automação ao volante e de segurança veicular, mas nem tanto aos apelos ecológicos. Quanto ao automóvel compartilhado as gerações de pessoas mais velhas não aderem muito à ideia, ao contrário dos jovens.
Apesar de ainda se desconhecer pormenores do Rota 2030, sabe-se que haverá metas severas tanto para consumo como para itens de segurança com prazos pertinentes. Também algum estímulo se concederá a propulsões alternativas como veículos híbridos – solução mais racional – e até elétricos. Nada que não tenha sido debatido com todos os atores, nem que possa se corrigir caso os objetivos de médio e longo não sejam alcançados ou enfrentem dificuldades de implantação.
RODA VIVA
PICAPE que a VW lançará no início de 2019, fabricada no Paraná, será maior que a Saveiro, mas não concorrente direta da Fiat Toro. Esta pode carregar até uma tonelada e para isso a VW já tem Amarok. Porte da nova opção com arquitetura MQB do Polo/Virtus/T-Cross estará mais próximo ao da Duster Oroch. Nome ainda sem definição. Conviverá com a Saveiro.
MITSUBISHI acaba de entrar no clube de marcas centenárias e hoje ativas. Em ordem alfabética: Alfa Romeo, Aston Martin, Audi, BMW, Buick, Cadillac, Chevrolet, Daihatsu, Dodge, Fiat, Ford, Lancia, Mercedes-Benz, Opel, Peugeot, Renault, Rolls-Royce, Skoda e Vauxhall. Maserati só produziu carros a partir de 1926. Spyker, de 1898, permaneceu 70 anos inativa.
MAIS recente entre as picapes médias renovadas, Nissan Frontier se destaca pela dirigibilidade. Afinal, é a única de chassis convencional (tipo escada) com molas helicoidais nos dois eixos. Podia ir melhor se tivesse direção eletroassistida e não hidráulica. Visibilidade, também muito boa, pelo banco alto do motorista e capô de desenho côncavo.
PARA se enquadrar na redução de consumo médio da frota à venda, exigência do Inovar-Auto a partir de 1º setembro (último prazo), Renault teve que segurar a venda de motores de 2 litros. Compensação é pelo menor consumo do Kwid, mas este modelo ainda está em curva de aceleração de produção. Em outubro, entregas começam a atender demanda reprimida.
PNEU do futuro poderá ser esférico, capaz de manter pressão sempre correta e banda de rodagem se regenerar em caso de cortes ou furos. Apresentado em março, no recente no Salão de Genebra, a Goodyear trouxe ao Brasil o Eagle 360 Urban. Exigirá carro e pavimentação específicos, em cidades (ou trechos) futurísticas, que a empresa ainda não ousa prever.
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