É indiscutível a contribuição das várias formas de religiosidade que formam e influem na cultura brasileira, em especial com a presença de mulheres, freiras, missionárias, mães de santo, catequistas e tantas mais. De forma geral, todas contribuíram e contribuem para nossa formação, seja na educação, seja na socialização e na construção da identidade nacional.
As mães de santo, sacerdotisas das religiões afro-brasileiras, que enfrentaram fortes resistências e violências infundadas e discriminatórias, souberam, mesmo com toda perseguição, abrir espaço na cultura, não discriminando raça, cor, gênero, ideologia, religião ou classe social. Desta forma, a cultura afro-brasileira foi sustentada pelas mulheres, nos terreiros, criando espaços culturais de expoentes marginalizados da nossa música popular brasileira, em movimentos que motivaram o nosso SAMBA, AFOXÉS, MARACATUS, CIRANDAS, CONGADAS, JONGO, BOIS-BUMBÁ, dentre outras manifestações culturais.
É forte a contribuição das mães de santo – as “tias”. Aqui citamos o que ficou conhecido como a “Pequena África do Rio de Janeiro”, ou seja, a comunidade de “Tia Ciata”, admirável mãe de santo. Foi neste terreiro, onde ritmos como o samba de roda, o samba de angola e outros se misturam para dar origem ao primeiro Samba gravado no Brasil – Pelo Telefone – Donga e Mauro de Almeida em 1917 (Estaremos discutindo este capítulo à parte), e passou também a ser conhecida como a ”Mãe do Samba”. Nascida na Bahia, Hilária Batista de Almeida – “Tia Ciata” – em 1854, se mudou para o Rio de Janeiro em 1876, em função das fortes perseguições impostas pela polícia de Salvador, pois o candomblé era religião perseguida naquele tempo.
Para sobreviver trabalhava como quituteira, e seu tabuleiro era famoso e farto com bolos e manjares, sempre com suas vestes de baiana, roupas que também alugava para a sociedade. Partideira reconhecida cantava com responsabilidade, sempre respondendo aos refrões das festas, que poderiam durar até semanas. Em sua casa se reuniram grandes compositores como Pixinguinha, Heitor dos Prazeres, Donga, Sinhô e João da Baiana para competidos saraus. Sua casa se localizava na Praça Onze e acabou se tornando ponto de encontro de personagens do samba carioca, sendo que para os primeiros desfiles das escolas de samba, era obrigatório passar diante de sua casa. A casa de “Tia Ciata” é referência na história do samba, do candomblé e da cidade do Rio de Janeiro. Morreu em 1924.