Um possível aumento nas exportações de carnes do Brasil, por causa do embargo da Rússia a produtos alimentícios de regiões como EUA e União Europeia, deve ter impacto mínimo nos preços destes produtos no varejo brasileiro no curto prazo, de acordo com economistas ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. A estimativa dos analistas é de que a queda nas cotações de grãos no exterior, como soja e milho, que são usados na ração animal, ajude a minimizar eventuais pressões de alta nos preços provocada por um provável crescimento das vendas externas de carnes.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, um eventual crescimento da demanda influenciada pelo embargo de Moscou pode suavizar o recuo esperado nos preços das carnes, mas não inviabiliza esse movimento. Ele lembra que os preços destes itens estão com comportamento atípico para nesta época, subindo em vez de caírem. Com a chegada das chuvas e a consequente melhora da pastagem, disse, o total de gado confinado poderá diminuir e os preços das carnes tenderão a arrefecer no segundo semestre.
“Com a estiagem prolongada, os pecuaristas tiveram de aumentar esse procedimento, o que elevou os custos. Dado que os grãos estão em queda, isso deverá se refletir nos preços daqui para frente. Demora um pouco, mas vai chegar e a pressão vai diminuir”, avaliou.
No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, divulgado nesta sexta-feira (8), as carnes apresentaram alta de 0,12%, enquanto no mesmo mês do ano passado atingiram 0,08%. O IPCA, por sua vez, ficou em 0,01%, ante 0,40% em junho de 2014.
A economista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria Integrada, também não espera mudança significativa nos preços das carnes, pelo menos por enquanto. Ela argumenta que, apesar da abertura de mercados para a carne brasileira, a oferta internamente vem crescendo a um ritmo maior do que a demanda. “Eventualmente, o aumento das exportações pode impedir uma queda nos preços das carnes, mas nada que possa provocar uma alta muito contundente no segundo semestre”, disse.
Já o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores, avalia que, no curto prazo, por uma questão especulativa, os preços das carnes podem avançar, mas nada que altere os fundamentos. “Não deve alterar o equilíbrio entre oferta e demanda, que é muito grande”, disse.
Seca
Além do mercado da Rússia, outro fator que poderia elevar os preços é o clima seco, que tem se prolongado, segundo Caparoz. “Mas como as cotações da soja e do milho estão com baixa forte lá fora, o pecuarista, mesmo que tenha de usar mais ração para o gado confinado, pagará menos por isso. No final das contas, uma coisa tende a anular a outra”, analisou, completando que os resultados financeiros das empresas é que poderão se beneficiar da medida da Rússia. “Não deve mudar a trajetória da inflação como um todo”, disse Caparoz.
Na visão de Souza Leal, do Banco ABC Brasil, ainda que a abertura do mercado russo acabe por pressionar os preços, o cenário ainda é de “tranquilidade” para esses produtos. “No geral, a inflação da Alimentação deixou de ser um problema. Deixou de ser vilã e vai ser a salvação. Vai ajudar os preços livres a recuarem e a acomodar um pedaço do impacto da alta dos administrados”, estimou.
Embargo
A retaliação do governo russo às importações de Estados Unidos e União Europeia já está vigorando desde quarta-feira, 6, e é válida por um ano. O principal produto que tende a ser beneficiado pela medida é a carne de frango, que tem maior potencial de exportação, podendo elevar as vendas para até 150 mil toneladas por ano, de acordo com Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Hoje as exportações alcançam 60 mil toneladas por ano. A medida adotada pela Rússia é uma resposta às sanções impostas por Estados Unidos e União Europeia, em função da crise na Ucrânia. A estratégia do governo russo é ampliar seus laços comerciais com os latino-americanos.
Em relação às carnes bovinas, dados da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec) mostram que a Rússia foi o segundo maior comprador do produto brasileiro entre janeiro e junho, totalizando US$ 578,542 milhões e 143,3 mil toneladas, ficando somente atrás de Hong Kong, com US$ 794,524 milhões e 192,3 mil toneladas. Estima-se que o mercado russo possa ampliar as compras brasileiras em cerca de 80 mil toneladas do produto.