Os juros e spreads maiores impulsionaram as margens dos grandes bancos privados no segundo trimestre e contribuíram para a aceleração do crescimento dos lucros ainda que pesasse um menor avanço do crédito no período. Em alguns casos, a melhoria da qualidade dos ativos foi interrompida, com leve piora, mas ainda assim os retornos ficaram acima dos 20%, patamar este que deve ser mantido nos próximos trimestres. Juntos, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander tiveram resultado contábil 30,8% maior de abril a junho ante um ano, para R$ 9,205 bilhões.
No conceito ajustado, o lucro líquido dos três maiores bancos privados de capital aberto no Brasil alcançou R$ 10,214 bilhões no segundo trimestre, cifra 27,5% superior à vista em um ano, de R$ 8,010 bilhões. Os resultados individuais superaram a expectativa de analistas. O Itaú fechou a temporada de balanços dos grandes bancos privados ao apresentar lucro contábil de R$ 4,899 bilhões no segundo trimestre, montante 36,7% superior ao identificado no mesmo período de 2013, de R$ 3,583 bilhões.
A aceleração dos lucros garantiu retornos elevados aos grandes bancos, derrubando a teoria levantada em meio à queda dos juros de que patamares superiores a 20% ficaram no passado. O Itaú Unibanco entregou rentabilidade de 23,3% no segundo trimestre, aumento de 4,2 pontos porcentuais na comparação com um ano, de 19,1%.
No Bradesco, o retorno sobre o patrimônio líquido médio atualizado (ROE) foi a 20,7% ao final de junho contra 18,4% visto um ano antes. No Santander, o indicador subiu de 10,9% para 11,6%. Para os próximos trimestres, os bancos sinalizaram manutenção desse patamar. Em termos de crescimento de volume de empréstimos, o desempenho não só do trimestre como também da primeira metade do ano deixou a desejar. A expansão da carteira de crédito ficou abaixo da expectativa das instituições, resultado da combinação de menor demanda de consumidores e empresas, baixo crescimento da economia, menos dias úteis por conta da realização da Copa no Brasil e maior seletividade dos bancos para emprestar.
O entendimento dos executivos é de que o segundo semestre venha acompanhado de uma maior demanda por crédito e melhores oportunidades de crescimento, motivadas pelo fator calendário que beneficia o período. O Itaú foi o banco que mais cresceu os empréstimos. De abril a junho, a carteira atingiu R$ 487,623 bilhões, aumento de 1,6% em relação ao montante visto ao final de março e de 9,6% na comparação anual. No conceito ajustado, porém, o crescimento foi de 2% e 10,6%, nesta ordem.
“O crescimento é desafiador, mas vamos trabalhar para alcançar o piso do guidance em 2014, de alta de 10% a 13%. Não estamos vendo necessidade de revisá-lo. 2014 é um ano atípico por conta da realização da Copa no Brasil que pode ter provocado o adiamento de tomada de recursos por parte das empresas”, avaliou Marcelo Kopel, diretor corporativo de controladoria e Relações com Investidores do Itaú Unibanco, em teleconferência com a imprensa.
O Bradesco também avançou sua carteira de crédito abaixo do guidance para este ano, de expansão de 10% a 15%, e assim como o Itaú o manteve. A carteira do banco alcançou R$ 435,231 bilhões em junho, elevação de 8,1% em 12 meses e de 0,7% ante o primeiro trimestre. No Santander, os empréstimos somaram R$ 279,722 bilhões, com alta de 4,9% e 1,6%, respectivamente.
Inadimplência
O segundo trimestre representou uma pausa na melhoria dos calotes dos grandes bancos, reflexo da desaceleração dos empréstimos e em linha com a expectativa dos analista. A exceção foi o Itaú Unibanco que seguiu reduzindo seu índice de inadimplência. Ao final de junho, o indicador, considerando os atrasos acima de 90 dias, alcançou 3,5% ante 3,4% em março. Segundo Kopel, a tendência é de estabilidade com possibilidade de “ligeira melhora” nos próximos trimestres em meio ao crescimento dos volumes.
Apesar disso, as despesas com provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, do Itaú somaram R$ 4,465 bilhões de abril a junho, aumento de 5,0% ante o primeiro trimestre. Kopel disse que o banco está “confortável” com o guidance para 2014 a despeito desta alta. O Itaú espera que os gastos com PDDs líquidos de recuperação de créditos fiquem entre R$ 13 bilhões e R$ 15 bilhões em 2014. A inadimplência do Santander subiu 0,3 ponto porcentual, para 4,1%, impactada pelo aumento dos calotes na pessoa física. Já o indicador do Bradesco subiu 0,1 p.p. em junho ante março, para 3,5%, depois de recuar por cinco trimestres seguidos.
Como consequência, as despesas com provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, cresceram 9,8% em junho ante março, para R$ 3,141 bilhões. “Crédito hoje é gestão de risco. O aumento da inadimplência no segundo trimestre não significa tendência. O índice está bem comportado e não altera a visão futura de estabilidade dos calotes no banco”, afirmou Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do banco, em teleconferência com a imprensa.
Margens e receitas
Do lado positivo, as margens financeiras foram o destaque do segundo trimestre e, consequentemente, de comentários de analistas que acompanham o setor bancário. Os ganhos maiores tanto com clientes como com o mercado, refletindo o melhor desempenho das tesourarias que retomaram aos patamares históricos. Kopel, do Itaú, explicou que a margem financeira do banco com clientes teve uma evolução importante amparada na reprecificação de produtos e associada à queda da perda de crédito impulsionaram o lucro do banco no segundo trimestre.
A margem financeira do Itaú com mercado, que decorre, basicamente, das operações com tesouraria, registrou resultado de R$ 881 milhões no segundo trimestre, aumento de 228,7% em um ano. Em relação ao primeiro trimestre, a alta foi de 43,6%. Já a margem financeira com clientes do Itaú totalizou R$ 12,712 bilhões, aumento de 7,1% ante os três meses anteriores, de R$ 11,874 bilhões. Do total, R$ 11,269 bilhões são sensíveis a spreads e R$ 1,443 bilhão à taxa de juros. No Bradesco, a margem financeira composta por operações que rendem juros foi a R$ 11,854 bilhões de abril a junho, aumento de 12,2% em um ano. Na comparação trimestral, o crescimento foi de 8,2%. Com isso, a taxa média subiu de 7,1% para 7,7%. A expectativa do Bradesco é que o indicador encerre o ano em 7,3%. As receitas com serviços também seguiram crescendo de maneira positiva, contribuindo para a diversificação de base de ganhos dos bancos e compensando um avanço mais lento do crédito. O Itaú Unibanco apresentou o maior crescimento no comparativo anual, de 17,40%, seguido pelo Bradesco com alta de 6,90%. Na contramão, as receitas do Santander recuaram 2,75%.