A Termocabo, em Pernambuco, é um exemplo claro da pressão que hoje afeta parte das 1.229 térmicas a óleo instaladas no País. Em 2010, a planta de 49 megawatts passou a fornecer energia ao Sistema Interligado Nacional (SIN), rede de transmissão que interliga todos os Estados, à exceção de Roraima. Pelo contrato com o governo em leilão realizado três anos antes, a Termocabo comprometeu-se a garantir um acionamento médio de 15% ao longo de cada ano, ou seja, menos de dois meses.
Esse parâmetro técnico, que fez parte do processo de habilitação da usina realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), norteou os investimentos e critérios operacionais da usina, além do preço do megawatt que os proprietários da térmica apresentaram no leilão. “Tudo correu bem até meados de 2012, quando a crise das hidrelétricas começou a ganhar corpo”, diz Benjamim Costa, diretor técnico da Termocabo.
Ao longo de 2013, a Termocabo trabalhou quase 100% do tempo. Neste ano, a situação se repete. “O resultado é que, em menos de dois anos, acumulamos um volume de horas em operação que só estava previsto para ser alcançado no fim de 2024, no último ano do contrato”, afirma Costa.
Esse uso constante obrigou a diretoria da usina a adiantar para 2014 uma revisão total que só ocorreria em 2024. Essa manutenção pesada, conhecida no setor como “overhaul”, serve para manter a vida útil da usina por um longo período. “Puxamos para hoje o que só faríamos daqui a dez anos. Fizemos uma revisão para funcionar por mais 12 mil horas, mas já sabemos que não deverá ser suficiente. Tudo indica que continuaremos a operar constantemente em 2015, ou seja, no fim do ano que devemos ter mais uma revisão”, diz o diretor da usina.
Revisão
A Termocabo gastou quase R$ 4 milhões com a manutenção. Os custos extras, no entanto, foram bem maiores, pois a usina teve de paralisar as turbinas por duas semanas – ora parcial, ora totalmente – para concluir a revisão e troca de peças. Como deixou de gerar energia nesses dias, teve de comprar o insumo a preço de ouro no mercado de curto prazo, para cobrir aquilo que não entregou. “Nós fomos penalizados, fomos glosados, tivemos parte da nossa receita retida”, diz Costa.
O balanço da Termocabo é a evidência de que o acionamento pleno das térmicas não costuma elevar o faturamento dessas usinas. Em 2012, a empresa teve receita líquida de R$ 68,2 milhões e lucro líquido de R$ 13,1 milhões. O uso constante da usina em 2013 elevou as receitas para R$ 152,4 milhões, mais que o dobro do ano anterior, mas o lucro se manteve em R$ 13,5 milhões. Isso é explicado, basicamente, pelos gastos com combustíveis e manutenções de rotina. “O problema é que, neste ano, tivemos de fazer uma revisão profunda na operação, e isso deve ocorrer de novo em 2015”, lamenta o executivo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.