O mercado de dívida externa deve voltar a se movimentar a partir da próxima semana, quando estará encerrada a mais polarizada das disputas para a presidência do País vista nos últimos tempos. A intensidade desse movimento vai depender, entretanto, do nome que sair vitorioso das urnas, Dilma Rousseff (PT) ou Aécio Neves (PSDB). Há companhias que estão prontas e apenas esperam conhecer o nome do novo presidente para colocar suas operações na rua, apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
A Invepar, dona das concessionárias de rodovias e do aeroporto de Guarulhos, é uma delas e aguarda apenas aguarda o resultado do pleito para estrear no mercado de dívida estrangeiro. Estariam na coordenação da operação o Banco do Brasil, Bradesco BBI, BTG Pactual e o Citigroup. Outra companhia que se comenta estar em busca de recursos no exterior é a Aço Cearense, siderúrgica com sede em Fortaleza, e que já teria sido apresentada aos investidores no exterior pelo BTG Pactual, Credit Suisse e HSBC. A empresa estaria interessada em captar entre US$ 200 milhões e US$ 400 milhões, de acordo com fontes. Os profissionais apostam também que alguns bancos podem tatear o exterior.
“Diria que se o Aécio for eleito, o mercado reabre rapidamente. Se Dilma vencer o pleito, o mercado vai aguardar um pouco para ver qual será a equipe econômica”, disse o responsável por renda fixa do brokerdealer Andbank, em Miami, Carlos Gribel. “É quase uma contradição, a continuidade traz mais dúvidas do que a mudança”, acrescentou.
Os custos das captações tendem a ser maiores ou menores também dependendo do resultado das eleições de domingo, assim como a motivação das companhias em acessar o mercado externo de dívida. “Os investidores estrangeiros devem exigir um prêmio maior nas operações em caso de continuidade do atual governo, em parte refletindo o comportamento negativo esperado dos mercados localmente”, disse uma fonte. “Ao mesmo tempo, o apetite dos potenciais emissores em captar novos recursos será também menor em caso do atual governo ser reeleito, pelo menos no curto prazo”, acrescentou.
De qualquer forma, poucos acreditam que o mercado de dívida ficará paralisado até o final do ano se a atual presidente for reeleita. “Mas somente aqueles que têm realmente necessidade de capital irão ao exterior até o fim do ano”, afirmam as fontes consultadas, no caso de vitória de Dilma.
E seja qual for o eleito, a percepção é de que no ano que vem os potenciais emissores aproveitarão a importante janela de janeiro – quando os fundos estão iniciando um novo ano de compras – para acessar o dinheiro do investidor estrangeiro antes de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) começar a subir o juro.
“Independentemente de quem ganhar as eleições, haverá muita gente olhando o mercado externo por conta do atual cenário de juro baixo”, afirmou uma das fontes que também não quis se identificar. Segundo ele, a questão eleitoral é muito mais emocional entre os investidores locais e uma parte das oscilações vistas no mercado de dívida externa é provocada por brasileiros com posições em bônus.
“Um fluxo maior ou menor estará mais vinculado às decisões de investimento das empresas como reflexo do pleito do que à percepção do investidor estrangeiro”, acrescentou. Um outro profissional observou que o estrangeiro está em busca de retorno e que, havendo oportunidade, desde que seja um bom crédito e que o quadro esteja definido, as emissões são sempre bem recebidas. Em seu ponto de vista, o grande risco da continuidade do atual governo é de perda do grau de investimento pelo País.
De qualquer forma, os bônus das empresas brasileiras negociados no exterior vêm sendo afetados pela expectativa com o resultado do pleito. Os bônus de companhias estatais ou ligadas ao governo operam com queda de preço, ao mesmo tempo em que o número de negócios é baixo. “Ninguém sabe para que lado o mercado irá e o mercado secundário está de certa forma travado desde a semana passada”, acrescentou Gribel.