Em 2002, na campanha eleitoral para a Presidência, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, subiu num caminhão em Rio Branco, no Acre, e para um público de 7 mil pessoas falou sobre o "medo" que a sua barba despertava em setores da sociedade. "Nem sei quantas pessoas eram inimigas minhas, tinham medo da bandeira vermelha do PT, da estrela do partido, da minha barba", contou Lula. "O tempo vai passando, todo mundo evolui, e hoje o PT é um partido mais preparado e calejado", concluiu.
A diminuição da resistência a Lula, exposta por ele no discurso, permitiu que o petista não só chegasse ao poder como levasse os símbolos de sua trajetória política, evidenciados no uso da barba e da estrela vermelha do PT na lapela do terno, ao lado de um broche com a bandeira do Brasil.
Nesta quarta-feira, depois de 32 anos usando barba, Lula se despediu da imagem que o consagrou como uma das principais figuras políticas do mundo. Foi por volta das 16 horas, em seu apartamento em São Bernardo do Campo, na presença da mulher, Marisa Letícia, e de Ricardo Stuckert, fotógrafo da Presidência nos anos em que governou o País.
Lula faz quimioterapia para combater um câncer na laringe e antecipou-se aos efeitos do tratamento, que causam queda dos fios. Marisa foi a responsável pela nova imagem: usou antes máquina para deixar o cabelo bem curto e depois passou lâmina de barbear, tanto na cabeça quanto no rosto. Restou apenas um bigode, o que deu ao ex-presidente "ares de Frei Chico", segundo amigos e familiares, numa referência a um dos irmãos de Lula.
As duas imagens do novo Lula foram divulgadas pelo Instituto Cidadania, ONG do ex-presidente. Nelas, ele aparece sorrindo, enquanto Marisa usa a lâmina, vestindo camiseta da campanha de combate ao câncer de mama. As primeiras imagens de Lula com barba são de 1979, época em que liderava as greves dos metalúrgicos na região do ABC paulista. O visual lhe rendeu o apelido de "sapo barbudo", dado por Leonel Brizola, durante a campanha presidencial de 1989.