Exterior e dúvidas sobre ingerência política em estatais faz Ibovespa cair forte

A preocupação dos investidores com a troca de comando na Petrobras e a indicação do governo de que novas mudanças ocorrerão, inclusive no setor elétrico se junta a um exterior já negativo esta manhã que é propício para fazer o Ibovespa ceder. A bolsa brasileira abriu em queda superior a 4% e já cede quase 6%, na faixa dos 111 mil pontos, depois de ter fechado aos 119.198,97 pontos, na sexta-feira, em baixa de 0,64%. No entanto, às 11h16, caia aos 112.104,20 pontos, em queda de 5,34%.

Hoje, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que a troca no comando da estatal está dentro da atribuição do presidente Bolsonaro. Sobre a queda das ações, disse: "é tudo especulação; mercado é rebanho eletrônico."

Já Bolsonaro voltou a tocar no assunto, afirmando que o "preço de combustível que eu falo que dá para reduzir mais de 10% não é na canetada, não". Segundo ele, haverá mudanças sempre que for necessário.

"O exterior em si não ajuda, principalmente porque a China deve começar a apertar as condições monetárias em breve, lembrando que o país passou por menos turbulência, então pode se dar a esse luxo. Já quanto aos EUA, o mercado ainda insiste que com tantos estímulos, a inflação subirá rapidamente e o Fed, ter de agir antes subir juros. O que eu discordo. Deve ser um dia bem negativo", descreve Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Para André Machado, sócio fundador do Projeto Os 10%, escola de traders, será um pregão bastante tenso não só para as ações da Petrobras, mas também para os papéis das estatais, uma vez que não se sabe onde mais o presidente colocará o "dedo".

Ele lembra ainda do impasse em relação ao auxílio emergencial. Nesta manhã, saiu a minuta da PEC do Senado autorizando a concessão do benefício sem redução de despesas, que deverá ser concedida por meio de crédito extraordinário. "Ninguém esperava um fim de semana tão verborrágico de interferências em estatais, na economia…Cenário lotado de incerteza e justamente na véspera do vencimento de opções sobre ações. Será que temos um presidente trader?", questiona, ao referir-se ao vencimento hoje na B3, um pregão depois do de sexta, quando as ações da Petrobras perderam 7,92%(ON) e 6,63%(PN).

O temor é de que esse quadro de dúvidas se arraste, afugentando os investidores, principalmente o estrangeiro. "É um problema estrutural. Acabou a privatização, acabou a confiança, o governo está enfrentando o mercado, e o investidor detesta isso, principalmente o estrangeiro", afirma o estrategista-chefe da Levante Ideias de Investimentos, Rafael Bevilacqua. "Além do mais, não sabemos até quando o ministro da Economia Paulo Guedes ficará no cargo", acrescenta.

O estrategista ainda acrescenta que ficam dúvidas ainda em relação à venda de ativos na companhia, que tende a ser paralisada. "Tivemos uma primeira fase do governo, de tentativa de avançar a agenda liberar, mas agora, tudo mudou. Deve ser uma fase bem ruim", estima.

Com essas mudanças, Machado afirma que pode-se esquecer a agenda de reformas. "O presidente está focado 100% em populismo, em reeleição", diz, completando que essas ações acabam gerando oportunidades para o Centrão no comando de diversas empresas.

Machado ainda ressalta que, nesse cenário de dúvidas, aumenta a possibilidade de o Banco Central (BC) retomar o inicio da alta da Selic em março. Acrescenta ainda que fica no radar a autonomia do BC, aprovada recentemente. "Claro que essa possibilidade é mínima, mas será que em meio a tudo isso, o presidente poderia repensar a autonomia?", pergunta.

"Vemos que não são só as ações da Petrobras que se contaminaram negativamente, mas é uma queda praticamente generalizada. Tínhamos a ideia de uma pauta liberal que já enfrentava dificuldades. Com essa troca, deve piorar ainda mais", estima João Vitor Freitas, da Toro Investimentos. De acordo com o analista, o grande medo no mercado é de uma guinada populista no governo. "E o silêncio do Guedes acaba incomodando ainda mais. Mercado acaba ficando na expectativa para ver se ele se pronunciará", diz, ao referir-se ao ministro Paulo Guedes.

Nem mesmo a alta em torno de 1% do petróleo no exterior deve acalmar as ações da Petrobras, cujas recomendações de compra estão sendo desfeitas por consultorias esta manhã.

"As únicas que salvam são Lojas Americanas 13,08% e B2W 6,685, pois parece que o mercado gostou da possibilidade de organização societária nas empresas", acrescenta Freitas.

Petrobras PN caia 19,58% e ON cedia 20,37%. Eletrobras perdia em torno de 7% e Banco do Brasil, cerca de 11%.

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