A incerteza no cenário macroeconômico e os preços relativamente altos das ações brasileiras provocam um fenômeno em algumas gestoras de recursos. Elas estão com mais dinheiro em caixa. Não dá para dizer que os recursos estão parados, porque repousam em aplicações de curto prazo com rendimento parecido com a Selic, hoje em 11,25% ao ano.
De certa forma contraditória ao mandato dos fundos, a posição em caixa praticamente não sofreu alteração depois de concluídas as eleições. O evento era o último que, teoricamente, contribuía para tornar atípico o ano, que começou com o carnaval tardio e teve dias parados com a Copa do Mundo.
O caixa acima da média histórica é uma realidade na gestora carioca STK Capital. Cerca de 20% dos recursos direcionados ao mercado brasileiro estão em aplicações referenciadas ao CDI. “Quando o cenário é ruim, mas há visibilidade, você sabe para onde ir. O problema é que agora está ruim e ninguém sabe como vai evoluir”, diz o sócio da STK Capital, Daniel Grozdea.
Um gestor comenta que a dificuldade não é prever como será 2015, depois de um crescimento praticamente nulo em 2014. O grande desafio é entender como serão os resultados de 2014. “Não conseguimos prever nem qual será o resultado fiscal deste ano”, diz o executivo de uma grande gestora de fundos de investimento, ainda surpreso com o resultado do Tesouro Nacional e com a proposta do governo para mudar a forma de calcular o resultado fiscal.
Além de mais dinheiro em caixa, o fundo de investimentos da STK, o “Brasil Long Biased” tem aproveitado totalmente a possibilidade de destinar 10% dos recursos em apostas no exterior. Assim, os recursos do fundo, cujo mandato é investir no Brasil, estão alocados em caixa (20%), ações brasileiras (70%) e no exterior (10%).
Com a conjuntura macroeconômica indefinida, baixo crescimento do País e dos retornos no tipo de papel que prefere investir, o gestor da STK tem sido mais rigoroso na alocação dos recursos. “Estamos demandando uma taxa de retorno mais elevada. Precisa ser de no mínimo 15% por ano. Em 2013, era cerca de 3 pontos porcentuais menor”, diz Grozdea.
Na gestora M.Square, o caixa é ainda maior. Está em torno de 30%, segundo o gestor Paulo Belliboni. Com a atual relação entre risco e retorno no mercado de ações, ele afirma que o caixa “poderia estar em 50%”. “Tem valido mais a pena ficar no CDI do que apostar em alguns papéis, porque os fundamentos estão pouco animadores. Do lado macroeconômico e político, o cenário está muito desafiador”, diz Belliboni.
Em outra gestora carioca, a IP Capital Partner, a situação é semelhante. Atualmente, cerca de 25% do patrimônio dos fundos que investem em ações no mercado brasileiro estão em caixa. “Geralmente, temos de 10% a 15%”, diz o sócio Pedro Cezar de Andrade. O motivo é a relação menos favorável entre risco e retorno nos papéis. A gestora espera uma melhora nos múltiplos (indicadores no mercado de ações que sinalizam potencial de valorização do papel) para voltar a fazer apostas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.