Cidades

Silêncio dos inocentes

Publicado primeiro pela Folha Metropolitana em 10 de fevereiro, o caso sobre pagamentos extras a funcionários da Câmara Municipal ganhou espaço na TV Globo, na última quinta-feira. O secretário chefe de Gabinete da Casa, o advogado Sérgio Luiz Deboni, recebeu nada menos do que 22 vezes o valor de seu salário de uma só vez, algo em torno de R$ 145 mil. Para a emissora, ele afirmou que só recebeu o que tinha direito. Porém, chama a atenção que, apesar da repercussão, nenhum dos representantes do povo se dignou a comentar o caso na sessão de ontem.  
 
18 anos para pagar
 
Diante da repercussão negativa, ainda segundo informou a TV Globo, o presidente da Câmara, Eduardo Soltur (PSD), teria determinado que o dinheiro pago a mais aos servidores fosse devolvido aos cofres públicos. Mas aos poucos. A reportagem informou que somente 10% do salário base será descontado por mês. No caso do secretário, que recebe (no holerite) R$ 6.431,00, a devolução à Câmara se limitaria a R$ 643,10 em cada folha de pagamento. Levantamento realizado pelo portal GuarulhosWeb mostra que – desta forma – os R$ 145 mil, sem contar juros e correção, voltarão aos cofres públicos em 18 anos e meio. Promoção como essa nem a Casas Bahia oferece.
 
 
Mas não era legal?
 
Diante do silêncio dos inocentes vereadores, principalmente aqueles que adoram ficar olhando o mato no quintal do vizinho, ninguém ainda conseguiu explicar porque os servidores que receberam valores a mais em janeiro precisarão devolver o dinheiro, principalmente pelo fato deles alegarem que foi tudo dentro da lei. Se era legal, por que devolverão? E se terão que devolver, já que receberam os valores de uma vez só, por que só terão descontados 10% do salário base por mês?
 
Nada sob o tapete
 
Em menos de um mês, a Câmara aprovou ontem a abertura da 2ª Comissão Especial de Inquérito. Depois daquela que investigará negócios ligados ao lixo, que vão focar as administrações passadas do PT, desta vez o alvo serão os contratos da saúde com as organizações sociais que administram unidades de saúde municipal, como a Fundação ABC. Vereadores da base, inclusive o líder do Governo, Eduardo Carneiro (PSB), assinaram o requerimento para a abertura. “A situação mudou. Antes, a base fazia de tudo para esconder a sujeira embaixo do tapete. Agora não. Vamos investigar sim”, declarou.
 
 
Os pais do problema
 
O líder da oposição, Edmilson Souza (PT), comemorou a abertura da CEI. Chegou a usar o velho chavão de seu partido “nunca antes na história desta Casa….”, reconhecendo que nada se investigava nos governos de Eloi Pietá e Sebastião Almeida. Na opinião dele, os problemas são da atual gestão, esquecendo-se da herança maldita recebida pela nova administração. Afinal, os contratos com as organizações, as grandes responsáveis pelo descaso apontado no requerimento de abertura da comissão, foram assinados pelos governos do PT.
 
 
 
 
 

Posso ajudar?