Poucos goleiros entraram para a história fazendo algo além do que belas defesas embaixo das traves. Rogério Ceni é um deles. Não só se destacou por ser o maior goleiro da história do São Paulo, como conseguiu o marco de ser o arqueiro com maior número de gols marcados, inclusive registrado no Guinness Book como recorde mundial.
Com 20 anos de carreira recém-completados, o mito tricolor firmou parceria com o jornalista André Plihal para contar histórias até então desconhecidas do público sobre sua carreira não só dos bastidores do clube paulista como também da Seleção Brasileira. "Maioridade Penal – 18 anos de histórias inéditas da marca da cal", um livro para todos os torcedores, inclusive os rivais.
Com uma sólida carreira construída, Ceni relata memórias de quando ainda não tinha todo o dinheiro que possui em conta hoje. Com apenas 18 anos de idade, vindo do modesto Sinop, do Mato Grosso, o goleiro lembra da valorização de pequenas coisas. Em determinado capítulo, recorda quando, ao lado de outros dois goleiros juvenis, decidiram se divertir e, ao sentarem em um ônibus rumo ao Morumbi Shopping, foi assaltado. Levaram alguns trocados, seu relógio "vagabundo" e seu bem mais precioso à época, o par de tênis Rainha System, parcelado em três vezes. Não teve escolha senão entrar no shopping só de meias e comprar o tênis mais barato. Na seqüência, ligou para o pai no Mato Grosso, a cobrar, disposto para voltar, mas prontamente convencido a permanecer.
Hoje exímio batedor de faltas, Ceni conta da época em que mal sabia cobrar um tiro de meta. Dos pedidos para Sérgio Baresi, atual treinador e zagueiro na ocasião, para cobrá-los, das orientações do preparador Valdir de Moraes, até os ensinamentos do mestre Telê Santana em como pegar na bola. Atualmente, gaba-se de vencer qualquer um na brincadeira de acertar o travessão.
O livro explica o surgimento das espalhafatosas camisas personalizadas de Rogério, inspiradas no colombiano Navarro Montoya, ex-goleiro do Boca Juniors, que deu a ideia ao são-paulino.
O goleiro-artilheiro também esclarece um dos motivos que o impediram de tornar-se titular na Seleção. Em 1997, na Copa das Confederações, Ceni integrava o elenco nacional dirigido por Zagallo, na Arábia Saudita. E, no meio do torneio, os atletas decidiram raspar a cabeça de todos os atletas. Mas ele não quis. Sem querer sem antipático, mas sem ceder, Ceni, ao contrário do zagueiro Gonçalves que se trancou no quarto para não ver sua juba ser extinta, deixou sua porta aberta e, quando Júnior Baiano e Flávio Conceição entraram, deixou claro que não queria raspar e não estava a fim de brincadeira.
Não adiantou. Com algumas falhas deixadas pelos jogadores, foi obrigado a completar o serviço, mas não escondeu o descontentamento e, por isso, não mais foi chamado por Zagallo. Quem pensa que isso incomoda o tricolor, se engana.
Apesar disso, ele não deixa de citar seus raros momentos em uma Copa do Mundo, em 2002, frente ao Japão, no lugar de Dida. Segundo Parreira, uma homenagem a ele. E a vontade incontrolável de querer cobrar uma falta na partida, uma loucura que acabou não acontecendo.
Considerado antipático por muitos, o mito tricolor conta atos de um funcionário dedicado, daqueles que doa o prêmio de melhor jogador do Mundial de 2005 com os 70 funcionários do CT do São Paulo e não descansa, mesmo doente, antes de acenar para a torcida que o tornou um ídolo após a conquista maior do cobiçado torneio.
Apesar dos 90 em 924 jogos, dezenas de títulos, as histórias são mais vibrantes, cômicas e atrativas que apenas lembranças.
Maioridade Penal
Autora Rogério Ceni
André Plihal
Editora Panda Books
Páginas 200
Custo Médio R$ 25,90
Ano 2009