Ruídos do cenário político doméstico afetaram o desempenho do Índice Bovespa nesta segunda-feira, 10, e o indicador oscilou em terreno negativo durante praticamente todo o pregão, na contramão das bolsas de Nova York. O adiamento da apresentação do relatório da reforma da Previdência e a possível flexibilização da regra de transição trouxeram dúvidas ao mercado, que anteviu risco de desidratação da proposta inicial do governo. Adicionalmente, houve desconforto com o episódio do vazamento de conversas do ministro Sérgio Moro (Justiça) com procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato.
Depois de ter caído mais de 1% pela manhã, o Ibovespa reduziu o ritmo ao longo da tarde e chegou a flertar com uma recuperação. No final do dia, marcou queda de 0,36%, aos 97.466,69 pontos.
As bolsas de Nova York repercutiram o acordo dos Estados Unidos com o México, que evitará a taxação da importação de produtos mexicanos, reduzindo os temores de nova guerra comercial envolvendo os EUA. Mas o dólar mais forte derrubou os preços do petróleo no mercado internacional, o que acabou por influenciar negativamente as ações da Petrobras. A commodity ainda ampliou as perdas no período da tarde, com os investidores cautelosos com a notícia da queda de um helicóptero sobre um prédio em Nova York. Ao final do pregão, Petrobras ON e PN tiveram perdas de 1,68% e 0,41%, contribuindo para a queda do Ibovespa.
“O pregão foi ruim mais pela reforma da Previdência do que pelo episódio da Lava Jato. O ponto de maior preocupação foi a nova regra de transição, além das outras três, que pode fazer recuar de R$ 1,2 trilhão para cerca de R$ 790 bilhões a economia da reforma em dez anos”, disse Vítor Miziara, gestor da Criteria Investimentos.
O relator da reforma da Previdência na Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), se reuniu no domingo com líderes de partidos e, além de anunciar o adiamento da apresentação de seu relatório, acenou com algumas mudanças no texto. Entre elas, Moreira afirmou que está em discussão a inclusão de uma quarta regra de transição para trabalhadores tanto do regime geral quanto servidores públicos.
Para Miziara, o caso das trocas de mensagens entre Moro e procuradores da Lava Jato não chegou a fazer preço. “Ninguém está sabendo ainda qual pode ser o impacto (das denúncias”. Já Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora, acredita que o episódio envolvendo Moro teve influência sobre os negócios, uma vez que o ministro é considerado um dos pilares do governo, ao lado de Paulo Guedes (Economia). “Houve influência porque o cenário é de poucas notícias concretas sobre a reforma da Previdência”, disse.