Economia

Usinas gastam mais água para produzir energia

A consultoria PSR, especializada no setor energético, acredita que os modelos oficiais adotados por órgãos ligados ao governo federal podem estar considerando uma eficiência inexistente no sistema elétrico brasileiro e que as usinas estariam utilizando 4% mais água para gerar o mesmo volume de carga. A diferença poderia levar o governo federal a adotar decisões incorretas, por exemplo, em relação à necessidade ou não de realização de um racionamento de energia, assim como a data de seu início. Além disso, exigiria a contratação adicional de 1.500 MW médios de energia.

O estudo interno considerou, de forma retroativa, as projeções adotadas pelo governo federal para o nível dos reservatórios. E, considerando os números oficiais de geração das usinas, vazão e nível dos reservatórios, detectou um descasamento de informações. O estudo mostrou que o nível dos reservatórios no início de 2012 deveria estar em 65%, e não em 43% conforme efetivamente realizado, caso fosse analisado de forma retroativa o modelo considerado para projeções futuras. Essa diferença de 22 pontos porcentuais representaria uma carga de 5.000 MW médios acima do verificado.

A descasamento dos números, de acordo com o gerente de Projetos da PSR, Bernardo Bezerra, viria de problemas de fricção, considerados estruturais do sistema. Eles possuem diferentes naturezas, incluindo restrições elétricas existentes no sistema e não mapeados, assoreamento de reservatórios e eficiência das hidrelétricas, entre outros aspectos. “Os modelos oficiais não captam isso porque se acredita que a eficiência do sistema é maior do que aquela que ocorre na realidade”, afirmou Bezerra, que participou nesta quinta-feira 4, de evento organizado pelo Grupo CanalEnergia. “Quando pegamos os dados realizados e a vazão que chegou ao sistema, chegaríamos, dois anos depois, com um nível de reservatório maior do que efetivamente chegamos”, complementou.

A análise explicaria o baixo nível de armazenamento dos reservatórios brasileiros, a despeito de o volume de chuvas no último período úmido não ser tão inferior a marcas atingidas em períodos anteriores. “O nível dos reservatórios chegou a 20% no final de novembro, o pior dos últimos 18 anos (os dados consultados vão até 1997). Mas, se olharmos 2012 e 2013, tivemos um 2013 apenas 3% abaixo da média e, em 2012, apenas 13% quando olhamos o sistema interligado nacional”, afirmou Bezerra. “Se olharmos o triênio 2012 a 2014, tivemos 88% da média histórica. Os números mostram que não passamos pela pior seca da história”, salientou.

Tais números levaram a PSR a utilizar os modelos atuais para uma análise aprofundada em relação ao que ocorreu entre 2012 e 2013. Identificou-se, então, uma incongruência entre os dados. “O governo fala em um excedente de 6.000 MW médios, quando na verdade haveria um déficit de 1.500 MW médios”, ressaltou Bezerra, em referência à declaração dada constantemente por Maurício Tolmasquim. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) destaca que haveria uma sobra estrutural de energia na casa de 6.000 MW médios.

Durante o evento, um representante da Aneel, não identificado, informou que os geradores terão de 12 a 24 meses para verificar in loco a situação efetiva dos reservatórios. O levantamento ajudaria a entender qual tem sido a real utilização dos reservatórios pelas usinas, assim como identificar se a eficiência dessas unidades é de fato tão elevada quanto acredita o governo federal.

Racionamento

Bezerra também afirmou hoje que o risco de haver racionamento em 2015 está hoje em 19%. O número considera uma previsão de afluência equivalente a 85% da média de longo termo (MLT) durante o período úmido. Se esse número fosse reduzido para 74% da MLT, o risco cresceria 53%. Por outro lado, se a chuva chegasse a 109% da média histórica, o risco de racionamento seria zero.

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