A Operação Lava Jato, da Polícia Federal, atinge o dia-a-dia da Petrobras e, de tabela, o de empresas parceiras na área de exploração e produção. Por conta das investigações de um suposto esquema de corrupção na petroleira pela Polícia Federal, os processos de compra de produtos e de contratação de serviços estão mais lentos do que o normal. Técnico de uma grande petroleira que não quis se identificar afirmou que “até mesmo contrato de compra de canetas está mais lento” e que o andamento de projetos conjuntos podem ser afetados.
Outro executivo de uma petroleira estrangeira demonstrou preocupação, especialmente, com o desdobramento da Lava Jato no cumprimento das regras de conteúdo local, que prevê que a maior parte das aquisições devem ser de fornecedores brasileiros. “Se todas as grandes empreiteiras e fornecedoras do setor petróleo forem incriminadas pela Polícia Federal, quais empresas contrataremos?”, questionou o executivo, que, assim como todos os parceiros da Petrobras procurados pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, pediu para não ser identificado.
Segundo ele, não será possível treinar novos fornecedores para atender às demandas do setor sem que os cronogramas das obras sejam afetados. A preocupação com o cumprimento das regras de conteúdo local chegou a ser levada pelas petroleiras ao Planalto, mas o relato é de inflexibilidade. Ele chega a classificar a posição do governo como sendo “infantil”. “O governo acha que se não for do jeito dele é melhor que não tenha investimento. Por outro lado, o México oferece tudo o que o Brasil restringe. Minha grande dificuldade hoje, no contato com a empresa matriz, é convencer que, diante de todas as denúncias e dificuldades, o País continua sendo atrativo”, contou.
No pré-sal, os investimentos em projetos em andamento estão resguardados, principalmente, por regras de parceria e convivência, intermediadas pela Pré-sal Petróleo S.A. (PPSA), que responde pelos interesses da União nos projetos. As condições das parcerias no pré-sal foram detalhadamente desenhadas antes mesmo do fechamento das sociedades, segundo um executivo de uma das petroleiras que atua em conjunto com a Petrobrás. E, após as denúncias de corrupção, um regulamento de boas práticas de negócios ganhou ainda mais peso do que antes. Ele relata que a elaboração desse manual que rege a convivência entre os sócios já estava prevista. No entanto, com a Lava Jato e, sobretudo, diante dos escândalos recorrentes, as sócias da estatal correram para aprovar o regulamento de boas práticas no desenvolvimento do pré-sal para não atrasar os projetos.
A PPSA também tem sido bastante rigorosa com a Petrobras. Na verdade, essa é uma prática comum e esperada da empresa, já que cabe a ela extrair o maior lucro possível do pré-sal em benefício da União. De qualquer forma, dizem executivos, o seu papel é importante para inibir desvios de recursos como os revelados pelo ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, de superfaturamentos e pagamentos de propina a funcionários da estatal para que fornecedores fossem favorecidos em licitações.
Como quanto maior o custo do projeto, menor o lucro, a PPSA tem o interesse de restringir os gastos da Petrobras, operadora no pré-sal, com equipamentos e serviços. Cada contrato é previamente examinado e, com frequência, a PPSA vem negando orçamentos apresentados pela estatal. Isso já ocorria independentemente da Operação Lava Jato. Mas, na prática, a atuação da PPSA tem tranquilizado as empresas parceiras da Petrobras de que os orçamentos são enxutos.