Economia

Itaú busca modelo mais próximo das empresas de tecnologia

Quando o engenheiro André Sapoznik entrou no Itaú, há quase 20 anos, todo produto do banco era desenvolvido como se fosse uma corrida de revezamento. A cada novo crédito parcelado ou cartão a ser desenvolvido, por exemplo, havia um caminho de meses – às vezes anos – a ser percorrido. Cada área, como comercial, risco, jurídico e tecnologia fazia sua parte antes de passá-la adiante. “Hoje em dia o processo tem menos a ver com revezamento e passagem de bastão e mais com canoagem”, diz Sapoznik, de 46 anos e hoje vice-presidente do Itaú Unibanco. “Cada um com sua especialidade ajuda o barco ir o mais rápido possível na direção certa.”

Apesar de muitas áreas ainda trabalharem no modelo tradicional, a intenção é fazer com que o banco se aproxime mais do modelo das empresas de tecnologia, que trabalham num formato chamado squads – ou esquadrões. Entendem problemas a ser resolvidos e trabalham em grupos multidisciplinares que desenvolvem projetos em pequenas etapas, ao mesmo tempo em que os testam.

Segundo Sapoznik, a tecnologia não existe mais como um fim em si, mas está tornando-se visceralmente conectada à área de negócios. “Tínhamos tempo para entregar soluções para os clientes e os ciclos eram mais longos”, diz ele. “Agora, desenvolvedores e pessoas de negócios falam a mesma língua e entendem os problemas mútuos. Tanto que, quando estão trabalhando, é difícil diferenciá-los.”

WeChat brazuca

Um dos exemplos desse novo formato de desenvolvimento é o iti, a plataforma digital de pagamento do Itaú Unibanco. Nos próximos dias a ferramenta será colocada em teste para parte dos clientes do banco – o lançamento será nos próximos meses.

A plataforma nasce 100% digital, dispensando o uso de maquininhas e cartão físico, explica Livia Chanes, diretora do iti. “O usuário baixará um aplicativo e colocará seus dados. Se quiser, poderá cadastrar seus cartões”, diz. Vale para o consumidor e para pessoa jurídica – e os cartões podem ser de outros bancos. O pagamento poderá ser via QR Code ou, no limite, o consumidor poderá receber boleto.

Um dos modelos que serviram de inspiração para a plataforma foi o WeChat, aplicativo de mensagens chinês que também faz pagamentos e tem 1 bilhão de usuários. “Será uma transação de pagamento instantânea”, diz Livia. “O parcelamento é uma jabuticaba brasileira a ser incorporado pelo iti.”

Além de tentar atender à necessidade dos clientes e mudar o formato de trabalho, a transformação também tem acontecido no ambiente. O complexo no qual está instalada a sede do Itaú no bairro Jabaquara, por exemplo, tem vários andares que lembram coworkings. Os espaços são abertos, há mini anfiteatros para reuniões da moçada que não hesita em trabalhar de bermuda, camiseta e cabelo colorido. Na terça-feira, Candido Bracher, presidente do banco, abriu a semana da diversidade da instituição com uma placa que mostrava um Itaú nas cores do arco-íris, em vez de apenas laranja.

Autor de best sellers sobre o futuro dos bancos e consultor da gestão Barack Obama para o setor, o americano Brett King, porém, teme que a transformação digital ainda não esteja no coração do banco. “A abordagem de trabalhar simulando empresas de tecnologia resulta em inovação mais lenta do que uma transformação ampla na cultura da organização”, diz King. “A tendência é pensar os times estão inovando, então o resto de nós não tem de mudar.”

Para ele, o Itaú tem boas iniciativas em tecnologias específicas. Mas, ao se descrever como um banco universal, reflete um pensamento baseado no tradicional mercado financeiro. “Eles têm boas iniciativas, mas com o NuBank e outros sacudindo o mercado latino-americano não acho que elas sejam suficientes.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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