A edição 2020 do Campeonato Brasileiro vai representar uma batalha a ser vencida tanto em campo quanto no planejamento logístico de viagens. O anúncio da CBF de que a competição continuará com 38 rodadas e previsão de durar de agosto até fevereiro de 2021 vai significar para os clubes a necessidade de repensar em detalhes o cronograma de voos, escolhas de hotéis e preparação de locais de treinos em outras cidades. Tudo isso sem descuidar do novo coronavírus.
Os 20 participantes da Série A aprovam a manutenção do formato em pontos corridos, mas sabem o quanto será intenso jogar 38 vezes ao longo de seis meses, com duas partidas por semana e ainda com compromissos por outras competições, como Copa do Brasil e torneios internacionais. São, ao todo, 380 jogos. Por isso, será fundamental planejar horários adequados para viagens, conexões com espera mais curta em aeroportos, novos tipos de treinos, rodízio de titulares e até pensar em hotéis com estrutura de higiene adaptada aos protocolos de saúde na pandemia.
Um dos times mais exigidos por essa agenda lotada será o Bahia. A equipe precisa pegar avião toda vez que sair de casa para enfrentar um adversário na Série A. No Brasileirão, a CBF se encarrega de pagar as despesas de viagem e hospedagem, mas cabe aos times escolher qual é a melhor programação. "Temos uma preocupação com a logística. O calendário será um desafio mais até do que o normal, que já é algo bem difícil", disse o presidente do clube, Guilherme Bellintani.
A definição da agenda pode forçar nesta nova era um time preferir, por exemplo, viajar para um jogo de antevéspera e não mais na véspera, por confiar que na cidade seguinte terá uma estrutura melhor para treinar e recuperar os atletas do cansaço da partida anterior. Inclusive, os próprios clubes têm acordos de colaboração para cederem as estruturas dos CTs uns aos outros. Isso significa, por exemplo, que ao viajar para Porto Alegre, um time paulista poderá usar a estrutura do Internacional e vice-versa.
"Será um Brasileiro bem aperreado, como dizemos aqui no Ceará. A gente já sofre com a logística porque no ano passado, viajamos 79 mil quilômetros no Brasileirão. O Flamengo percorreu só 27 mil. Isso faz uma diferença no preparo", comentou o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz. "Será preciso ter até viagens mais flexíveis para diminuir o tempo de espera. O aeroporto cansa e é acima de tudo um local com risco de contágio", completou.
TABELA – Uma vontade dos clubes é que a tabela possa ser alterada para facilitar as viagens. Assim, um time pode, em uma sequência, realizar partidas em cidades próximas, para diminuir o desgaste. A CBF não se manifestou ainda sobre essa possibilidade. "Isso seria uma medida inteligente. Se nós, do Ceará, fôssemos ao Sul com uma sequência de jogos seguidos por lá, seria o ideal. Mas não temos a tabela ainda", afirmou o presidente do Ceará, Robinson de Castro.
Os times e a CBF prometem ter atenção até com a escolha dos hotéis. As acomodações vão precisar ser individuais e com o atendimento aos critérios de higiene do novo coronavírus. "Me preocupa, além dos deslocamentos em aeroportos, as estruturas dos hotéis onde as delegações ficarão hospedadas. Penso que todo cuidado é preciso com esses detalhes: viagens e acomodações", disse ao Estadão o técnico do Goiás, Ney Franco.
As agendas de jogos ainda podem ser impactadas por possíveis decretos locais que proíbam a realização de partidas em uma cidade, mesmo com portões fechados. Essa possibilidade já foi contemplada e discutida em reuniões da CBF, com o acordo dos clubes. Os únicos times que se posicionaram de forma mais crítica ao começo do Brasileirão no início de agosto foram os quatro grandes de São Paulo. Todos pediram mais tempo para se preparar para o calendário. Eles ainda não voltaram a treinar nos CTs. Retomam as atividades dia 1º de julho.
Apesar das divergências e dos temores com o Brasileirão reformulado, existe a unanimidade de que o campeonato tem de ser realizado. "É o momento de todos fazerem sacrifício com o calendário. Ou começa o campeonato ou não tem a competição, para não inviabilizar tudo para o ano que vem. Não dá mais para ficar esperando, se não seria a falência do futebol", afirmou o presidente do Atlético-GO, Adson Batista.