Ivan Silva, 58 anos, paulistano nascido e criado no bairro da Penha, trabalha em Guarulhos desde 1967, quando foi convidado a gerenciar uma loja de eletrônica que fornecia peças para técnicos. Dezesseis anos mais tarde, já possuía duas lojas de eletrônica na cidade. Desde 1992, dedica-se à loja Micro Shopping , pioneira no ramo de comércio de instrumentos musicais e som profissional em Guarulhos.
Desde 2000, passou a morar na cidade. A mudança sempre era adiada por causa dos filhos do comerciante, que já estavam acostumados com a escola em que estudavam na Capital.
Sua maior empreitada, a Micro Shopping, é uma loja de instrumentos musicais que foi aberta há 17 anos e é a primeira loja do ramo na cidade. Na época, investir nessa área pareceu mais interessante do que insistir no comércio de peças e equipamentos eletrônicos, que já sofria de escassez de materiais para conserto de aparelhos e estava defasada diante de novas tecnologias.
Em 1998, com a inauguração do Internacional Shopping, veio a oportunidade de expandir os negócios dentro lá dentro. "Fomos a primeira loja de instrumentos musicais dentro de um shopping e, ao contrário dos outros, nunca colocamos os CDs como carro chefe do negócio", conta o empresário. Os seis primeiros anos foram os mais difíceis; exigiram paciência até que as finanças se equilibrassem e o Internacional se firmasse como centro de consumo.
Ainda hoje, administrar as duas lojas demanda boa parte do tempo de Ivan e seus três filhos. "Pra gente é como ter uma única loja que funciona de segunda a segunda das 8h às 22h". Segundo o contador, 80% dos frequentadores da loja do Internacional são de pessoas que não são da cidade.
Os consumidores vêm de municípios como Mairiporã, Atibaia, Bragança Paulista ou de bairros adjacentes a Guarulhos, por exemplo, Tucuruvi, Parque Novo Mundo e Penha. No caso da loja do Centro, os compradores costumam ser guarulhenses. O contato de Silva com música veio ainda na juventude e é bem simbolizado pelo anel com uma clave de sol gravada que ele usa o tempo todo.
Guitarrista autodidata, ele chegou a ter uma banda chamada Beatos em homenagem aos Beatles. A banda inglesa era a maior fonte de inspiração do repertório do conjunto.
O jornalista Hermano Henning chegou a ser empresário da banda. "Ele andava de Kombi com a gente quando íamos fazer shows. Fomos bastante ao Recreativo". Ele tocou dos 14 aos 21 anos e deixou a vida de músico porque precisou optar por uma carreira mais sólida.
Na opinião do empresário, faltam comércios com ligação histórica com a cidade, resultando em um quadro "com muitos donos e pouco empreendedores. Muitos dos proprietários dos negócios da cidade não sabem nem querem saber o nome de nosso prefeito".
A proximidade de São Paulo é o maior empecilho para o desenvolvimento de comércios nascidos na cidade, segundo Silva. "Para mim, a principal avenida de Guarulhos é a Dutra e ela é a responsável pela evasão de compradores que preferem fazer consumir na Capital". Ele cogita certa culpa dos comerciantes locais pela situação, pois o mau atendimento seria capaz de afastar fregueses mais criteriosos.
Dentro de seu ramo, o quadro tem o agravante de a cultura de educação musical não estar arraigada na população. A concorrência dentro desse comércio também cresceu na cidade, embora Silva acredite que a forma como a maioria lida com os clientes seja equivocada.
"Não podemos vender um instrumento como se fosse uma camisa ou fazendo leilão de preços. Quem quer fazer música vive um sonho e temos que deixar isso rolar".
Silva acredita que a cidade tem grandes músicos, igualmente ignorados pelos habitantes. "Temos bons músicos que saem daqui a vão trabalhar pelo Brasil afora. Se as pessoas não os conhecem, podemos concluir que é porque eles nunca tiveram lugar por aqui."