Cidades

Gilmar Pinna, o escultor que adotou Guarulhos

Humanismo retratado nas esculturas do guarulhense Gilmar Pina

Humanismo. Talvez seja essa a característica que melhor defina o sentimento que o escultor Gilmar Pinna, 51 anos, transmite a todos que conversam com ele. Nascido em Ilhabela, litoral norte de São Paulo, veio de uma família simples e numerosa e fez das praias a sala de estar. Fazendo esculturas de areia, conquistou seu primeiro prêmio artístico aos 12 anos. Depois de passar a esculpir em materiais como argila e mármore, nos anos 70 – através do artista plástico do pintor e desenhista basco Fernando Odriozola- teve seu primeiro contato com a modelagem de aço que o deixariam conhecido no mundo inteiro. Pinna dedica todas as suas obras a retratar pessoas que a transmitir sentimentos e sonhos. "Não quero mais saber de dinheiro. Quero ajudar o próximo, entender o que há de mais precioso dentro de casa ser", conta. Suas esculturas retratam desde figuras ilustres ligadas à luta pelos diretos humanos, como Nelson Mandela e Madre Teresa de Calcutá, até pessoas anônimas que passam despercebidas em meio à multidão, mas não escapam a um olhar mais atento do artista. Segurando uma pequena escultura branca de um bóia-fria com uma foice na mão, o artista conta a história da obra. "Um empresa do ramo de açúcar fez essa encomenda e decidi mostrar o bóia-fria, que era o ponto de partida de todo o negócio deles". O homem da escultura foi visto sentado à beira de um canavial. "Eu via todos aqueles sulcos no rosto dele e vi toda a história de vida do cara e ele passou a ser muito importante pra mim, mesmo sendo invisível pra sociedade. E dessa forma disse uma verdade para a empresa".
Suas esculturas de aço são grandiosas e costumam ser expostas em espaços abertos, como o Memorial da América Latina, em uma clara tentativa de tornar a arte acessível a todos, no lugar de "encerrá-las dentro de uma galeria onde nem todos podem entrar e ver", nas palavras do escultor. Depois que sua cidade natal se tornou ponto turístico, ao invés de um lugar onde várias gerações se sucediam e conheciam intimamente cada morador, ele decidiu que era hora de partir. "Fomos perdendo o contato um com o outro, as pessoas não tinham mais nome". Como um cigano, rodou o mundo até que encontrar um lugar que considerou perfeito para fincar raízes. Era Guarulhos.
O artista está na cidade desde 2001 e, meio por acaso, acabou ficando. Pinna confessa que tinha uma impressão ruim sobre Guarulhos, que só conhecia de passagem por causa do aeroporto. Quando uma amiga o convidou para passear e conhecer melhor o município, ele ficou convencido de que, de todas as cidades que conheceu no mundo, era o melhor lugar para morar. "É uma coisa incrível, uma metrópole com mais de um milhão de habitantes e as pessoas ainda se conhecem, dá pra sentir uma alma interiorana".
E assim, apaixonado por Guarulhos, Pinna afirma que não sai mais daqui. Sua próxima empreitada artística já toma formas em um galpão da cidade. Com o nome "Sustentabilidade", as esculturas da exposição devem retratar a importância da preservação da humanidade, seus sentimentos e iniciativas. Sem medo de ser taxado de politicamente incorreto, ele critica as ações que visam somente proteger a fauna e a flora: "Tartarugas e árvores nós temos aos montes. Agora, cada ser humano é único e nós não nos importamos mais com isso".
A oficina onde as obras são criadas chama-se "Ninho da Arte" e tem as portas abertas para a comunidade. O novo projeto do artista deve contar com participação ativa da população. "Quero que venham aqui para que eu ensine meu oficio. Vou mostrar como se corta uma chapa de aço, como fundir as peças até criar uma forma definitiva". Uma novidade deve impressionar os transeuntes que passarem pela Av. Guarulhos, onde fica a oficina. Um telão deve ser montado em breve para mostrar o que acontece lá dentro em tempo real. Além desse projeto, o escultor tem planos para fazer esculturas contando a história da cidade. "Essa seria minha contribuição para este lugar que me acolheu tão bem".

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